terça-feira, 30 de setembro de 2008

RODA DE LEITURA : MIMI NASHI OICHI

Na próxima quinta-feira (09), ás 15 horas, a escritora, poeta e jornalista Marilia Kubota fará uma leitura do conto Mimi Nashi Oichi, refabulado pelo escritor Valêncio Xavier. A escritora é a convidada da semana do Ciclo Diversidades, da Roda de Leitura, uma das atividades da Casa da Leitura (Parque Barigui).
Mimi Nashi Oichi faz parte das histórias da tradição oral japonesa. A lenda integra a coletânea de horror japonesa Kwaidan, traduzida para o inglês pelo nipólogo Lafcádio Hearn, em 1905. O escritor Valêncio Xavier tomou conhecimento da estória de Mimi-Nashi-Oishi através da versão em espanhol, conforme nota na publicação original, de 1986.
Mimi Nashi faz parte do ciclo de narrativas chamado “saga do clã Taira (ou Heike)”. No século 12, duas famílias, os Taira e Minamoto (ou Geishe), lutavam pela posse do trono no Japão. Os Minamoto venceram e instituíram o shogunato –uma forma de administração similar ao feudalismo europeu. O shogunato durou de 1192 a 1868, com ressonâncias até o final da Segunda Guerra Mundial.
O extermínio dos Taira gerou muitas lendas na região em que seu as batalhas finais. Uma delas, a do monge Oichi, um jovem cego que se refugia num templo. Uma noite ele é chamado por um samurai para cantar a saga dos Taira para uma “platéia muito distinta”. Os monges descobrem que se tratam de fantasmas dos Taira e para protegê-lo, cobrem seu corpo com sutras (ensinamentos budistas). Quando o samurai volta para buscá-lo, leva apenas suas orelhas, que não haviam sido cobertas pelos escritos.

Valêncio Xavier, nascido em São Paulo (1933) desde os anos 60 morador de Curitiba era aficcionado pela cultura japonesa. Mimi Nashi Oichi foi publicado pela primeira vez junto com outra novela, O Mistério da Prostituta Japonesa, em edição do autor. A segunda edição está no livro O Mez da Grippe, da Companhia das Letras, de 1998.

Valêncio também publicou Maciste no Inferno, em 1983, O Minotauro, em 1985, 13 Mistérios + O Mistério da Porta Aberta Revista Quem, 1983 a 1990, todos republicados em O Mez da Grippe. Em 2001 a Companhia das Letras lançou Minha Mãe Morrendo e Menino Mentido e a Publifolha, Crimes à Moda Antiga, em 2004.
Marília Kubota integrou as antologias Crônicas Paranaenses (1999, crônica), Pindorama (2000, poesia), Passagens (2002,poesia), 8 Femmes (2007, poesia) e Antologia Brasileira do Início do Terceiro Milênio (2008, poesia), lançada em Portugal. Seu último livro é Selva de Sentidos (2008, poesia).
Desde 2005 orienta oficinas de criação literária. Em 2008 organizou o Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato. Mantém o blog Micropolis e trabalha com projetos de comunicação para a comunidade nipo-brasileira de Curitiba.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Texto-fonte - encontro 5

A literatura alimenta a alma. É um modo de conhecer outras realidades e culturas, um mundo inventado pela ficção. Ela nos conduz ao conhecimento de nós mesmos e dos outros. Um escritor inventa uma biografia emocional com um recorte histórico.
Miton Hatoum
RELATO DE UM CERTO ORIENTE

Romance escrito pelo amazonense descendente de árabes, Milton Hatoum Lançado em 1989 pela Companhia das Letras. Conta a história de uma família árabe que vivia em Manaus, abrangendo um período de 20 anos (1954 a 1974). O relato é feito por cinco narradores em forma de cartas, lembranças de depoimentos dados aos narradores e outros recursos. Todos tentam reconstituir a história da família comandada por Emilie, uma libanesa de formação católica e francesa.
Os relatos de uma filha adotada (sem nome), do filho mais velho de Emilie, Hakim, do amigo fotógrafo alemão Gustave Donner, do marido de Emilie (sem nome) e da amiga Hindie Conceição recompõem a trágica historia de Emilie.
A protagonista veio para Manaus com família (pais e irmãos) e casou-se com um libanês muçulmano. O casal conviveu sem conflitos religiosos e sobreviveu do comércio de tecidos e objetos decorativos (a loja Parisiense). O negócio prosperou e a família, que inicialmente habitava na loja mudou para um sobrado.
Era Emilie quem detinha o poder na família. Teve quatro filhos , três homens e uma mulher. Em sua casa, além dos quatro filhos, habitavam os agregados – empregadas e filhos adotivos (provavelmente filhos extraconjugais do marido ).
Uma das primeiras tragédias da vida de Emilie foi a gravidez da filha, Samara Délia, na adolescência. Samara é condenada pelos preceitos religiosos do pai. A mãe a protege, impondo-lhe a clausura e castidade para o resto da vida.. Embora tenha sido perdoada pelo pai, após o nascimento da neta, Samara não é perdoada pelos irmãos caçulas. A filha, Soraya Ângela nasce surdo-muda e é atropelada aos seis anos. A partir deste episódio, começam as brigas e o inicio da decadência da vida do clã, com a morte do patriarca e dispersão dos irmãos.
O tempo do romance não é cronológico. A ação se desencadeia a partir da volta da filha adotada à casa da infância. Ela tenta reconstituir as memórias de 20 anos de afastamento. A narradora não conhece toda a história, por isto lança mão dos relatos de parentes e amigos. A história toda só é conhecida lendo os relatos atentamente.
No trecho que vamos ler, o relato é uma lembrança de Hakim. Apresenta a relação da família com as agregadas. Observe como o filho vai recompondo a personalidade da mãe. Observe a atitude de Hakim no relato.

...devo dizer que as lavadeiras e empregadas da casa não recebiam um tostão para trabalhar, procedimento corriqueiro aqui no norte. Mas a generosidade revela-se ou esconde-se no trato com o Outro, na aceitação ou recusa do Outro. Emilie sempre resmungava porque Anastácia comia “como uma anta” e abusava da paciência dela nos fins de semana em que a lavadeira chegava acompanhada por um séqüito de afilhados e sobrinhos. Aos mais encorpados, com mais de seis anos, Emilie arranjava uma ocupação qualquer: limpar as janelas, os lustres e espelhos venezianos, dar de comer aos animais, tosquear e escovar os pelos dos carneiros e catar as folhas que cobriam o quintal. Eu presenciava tudo calado, moído de dor na consciência, ao perceber que os fâmulos não comiam a mesma comida da família, e escondiam-se nas edículas ao lado dos galinheiros, nas horas da refeição. A humilhação os transtornava até quando levavam a colher de latão á boca. Além disso, meus irmãos abusavam como podiam das empregadas, que às vezes entravam num dia e saiam no outro, marcadas pela violência física e moral. A única que durou foi Anastácia Socorro, porque suportava tudo e fisicamente era pouco atraente. Quantas vezes ela ouvia, resignada, as agressões de uns e de outros, só pelo fato de reclamar, entre murmúrios, que não tinha paciência para preparar o café da manhã cada vez que alguém acordava, já no meio do dia. Vozes ríspidas, injurias e bofetadas também participavam deste teatro cruel no interior do sobrado. Lembro de uma cena que me deixou constrangido e apressou a minha decisão de partir, e assim venerar Emilie de longe.
Estava lendo no quarto quando escutei um alvoroço na escada: gritos, choro, convulsões. Corri para ver o que acontecia, e vi um dos meus irmãos arrastando uma das nossas ex-empregadas com um bebê entre os braços. Emilie surgiu de não sei onde, apartando um do outro, e tentando acalmá-los. Ela acompanhou a mulher até o portão e, ao despedir-se dela, cochichou algo a seu ouvido. A mulher levou a criança à Parisiense e contou coisas a meu pai. Foi uma das poucas vezes que o vi cego de ódio, os olhos incendiados de fúria. Eu estava de pé, ao lado da janela da copa, olhando ora para a gravura de um livro de viagens, ora para uma abóbada de folhas cinzentas movimentando-se no quintal, quando o pai irrompeu na casa; fiquei estatelado ao divisar seu corpo alto e um pouco curvado surgir no vão da porta; levava enroscado no punho o cinturão, tal uma serpente negra e delgada; a sua maneira de subir a escada era inconfundível: dava passadas espaçosas, calcando o pé no degrau, e a mão esquerda roçava o corrimão: o atrito da pele com a madeira emitia, em breves intervalos, ruídos agudos, uma espécie de silvado: escutei com temor o corre-corre, o salve-se-quem-puder; e escutei também, pela primeira vez nos seus acessos de fúria, uma frase em português: gritou, entre pontapés e murros na porta, que um filho seu não pode escarrar como um animal dentro do corpo de uma mulher. Depois ele desceu e entrou na cozinha à procura de Emilie; o livro tremia em minhas mãos, e a gravura a bico de pena não era mais que uma teia informe de finos rabiscos; procurei Sálua no quintal, mas não a vi. Também não tive ímpeto de me afastar dali: o medo deixara-me sem ação e sozinho diante de um pai encolerizado. O bate-boca com Emilie foi tempestuoso e breve; que não era a primeira mulher que aparecia na Parisiense com o filho no colo, dizendo-lhe “esta criança é seu neto, filho do seu filho”; que não atravessara oceanos para nutrir os frutos de prazeres fortuitos de seres parasitas; que naquela casa os homens confundiam sexo com instinto e, o que era gravíssimo, haviam esquecido o nome de Deus.
- Deus, contra-atacou Emilie – Tu achas que as caboclas olham para o céu e pensam em Deus ? São umas sirigaitas, umas espevitadas que se esfregam no mato com qualquer um e correm aqui para mendigar leite e uns trocados.

O velho interrompeu subitamente a discussão e saiu sisudo, decepcionado antes com Emilie que com meus irmãos. Era inútil censurá-los ou repreendê-los Emilie colocava-se sempre ao lado deles: eram pérolas que flutuavam entre o céu e a terra, sempre visíveis e reluzentes aos seus olhos, e ao alcance de suas mãos.
Essa convivência de Emilie com os filhos me revoltava, e fazia com que às vezes me distanciasse dela, mesmo sabendo que eu também era idolatrado. Tornava-me um filho arredio, por não ser um estraga-albarda, por não ser vitima ou agressor, por rechaçar a estupidez, a brutalidade no trato com os outros. No meu intimo, creio que deixei a família e a cidade também por não suportar a convivência estúpida com os serviçais. Lembro Dorner dizer que o privilégio aqui no norte não decorre apenas da posse de riquezas.
- Aqui reina uma forma estranha de escravidão – opinava Dorner. – A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas.
Havia alguma verdade nesta sentença. Eu notava um esforço da parte de Emilie para manter acesa a chama de uma relação cordial com Anastácia Socorro. As vezes bordavam e costuravam juntas, na sala; e ambas conversavam sobre um passado e lugar distantes, e essas conversas atraiam minha atenção. Permanecia horas ao lado das duas mulheres, magnetizado pelo desenho dourado gravado no corpo vítreo do narguilé, nas contas de cor carmesim que formavam volutas ou caracóis semi-imersos no liquido nacarado, e no bico de madeira que terminava num orifício delicado, como se fossem lábios preparados para um beijo. Mirando e admirando aquele objeto adormecido durante o dia, escutava as vozes, de variada entonação, a evocar temas tão distintos que as aproximavam. Anastacia impressionava-se com a parreira sobre o pátio pequeno, o telhado de folhas, suspenso, de onde brotavam cachos de uvas minúsculas, quase brancas e transparentes, e que nunca cresciam; ela fazia careta quando degustava as frutinhas azedas, sem entender a origem dos cachos enormes de graúdas moscatéis que entupiam a geladeira, o pomar das delicias, junto com as maçãs, peras e figos que meu pai trazia do sul, bem como as caixas de raha com amêndoas, os saquinhos de miski, as latas de tâmaras e de “tambac”, o tabaco persa para o narguilé. As frutas e guloseimas eram proibidas às empregadas, e , cada vez que na minha presença Emilie flagrava Anastácia engolindo às pressas uma tâmara com caroço, ou mastigando um bombom de goma, eu me interpunha entre ambas e mentia à minha mãe, dizendo-lhe: fui eu que lhe ofereci o que sobrou da caixa de tâmaras que comi; assim, evitava um escândalo, uma punição ou uma advertência, alem de deixar Emilie reconfortada, radiante de alegria pois para fazê-la feliz bastava que um filho devorasse quantidades imensas de alimentos, como se o conceito de felicidade estivesse muito próximo ao ato de mastigar e ingerir sem fim.
A lavadeira me agradecia perfumando minhas roupas; depois de esfregá-las e enxaguá-las, ela salpicava seiva de alfazema nas camisas, lenços e meias, e, quando eu punha as mãos nos bolsos das calças, encontrava as ervas de cheiro: o benjoim e a canela. Um odor de mistura de essências me acompanhava nos passeios pela cidade e desprendia-se do guarda-roupa aberto durante a noite, como se ali, fumegando em algum canto escuro, existisse um incenso invisível.
O odor não estava ausente da conversa entre as duas mulheres. O aroma das frutas do “sul” vaporava, se colocadas ao lado do cupuaçu ou da graviola, frutas que, segundo Emilie, exalavam um odor durante o dia, e um outro, mais intenso, mais doce, durante a noite. “São frutas para saciar o olfato, não a fome”, proferia Emilie. “Só os figos da minha infância me deixavam estonteada desse jeito.” O aroma dos figos era a ponta de um novelo de historias narradas por minha mãe. Ela falava das proezas dos homens das aldeias, que no crepúsculo do outono remexiam com as mãos as folhas amontoadas nos caminhos que seriam cobertos pela neve, e com o indicador hirsuto da mãos direita procuravam os escorpiões para instiga-los, sem temer o aguilhão da cauda que penetrava no figo ofertado pela outra mão. Ela evocava também os passeios entre as ruínas romanas, os templos religiosos erigidos em séculos distintos, as brincadeiras no lombo dos animais e as caminhadas através de extensas cavernas que rasgavam as montanhas de neve, ate alcançar os conventos debruçados sobre os abismos.”Mas tinha um outro caminho, ao ar livre”, dizia emocionada. Era uma escada construída pela natureza: pedras arredondadas pela neve escalonavam as montanhas e te conduzem quase sempre a um convento ou monastério. Lá do alto, a terra , os rios e o mar azulado desaparecem: a paisagem do mundo se restringe á floresta de cedros negros e ao rio sagrado que nasce ao pé de montanhas. Além dos muros que circundam os edifícios suntuosos e solenes, uma outra paisagem surge como um milagre: córregos ao meio de bosques, videiras, oliveiras e figueiras que se alastram não muito longe do claustro, da igreja e das celas onde os solitários, nutridos pela religião, alçam o vôo rumo ao céu como as asas de uma montanha.
Impassível, com o olhar vidrado no rosto de Emilie, Anastacia aproveitava uma pausa da voz da patroa, empinava o corpo e indagava: como é o mar? O que é uma ruína? Onde fica Balbek ? As vezes Emilie franzia a testa e me cutucava, querendo que eu elucidasse certas duvidas. É curioso, pois sem se dar conta, tua avó deixava escapar frases inteiras em árabe, e é provável que nesses momentos ela estivesse muito longe de mim, de Anastácia, do sobrado e de Manaus. Eu deixava de contemplar os arabescos do narguilé para ponderar sobre isso e aquilo, e tentava dar outro rumo ao assunto, uma reviravolta no tempo e no espaço, passar do Mediterâneo ao Amazonas, da neve ao mormaço, da montanha à planície. E, antes que Anastácia começasse a falar, Emilie largava as agulhas e os panos, e ordenava a mulher a preparar um café com borra e servi-lo em xícaras de porcelana chinesa, tão pequenas que o primeiro gole parecia o ultimo. Alguma coisa imprecisa ou misteriosa na fala de Anastácia hipnotizava minha mãe Emilie, ao contrario de meu pai, de Dorner e dos nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu mundo visível. O outro, latejava na sua memória. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantada,Emilie maravilhava-se com a descrição da trepadeira que espanta a inveja, das folhas malhadas de um tajá que reproduz a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que vêem em certas ervas da floresta o enigma das doenças mais terriveis, com as infusões de coloração sanguinea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. “E existem ervas que não curam nada”, revelava a lavadeira, “mas assanham a mente da gente. Basta tomar um gole de liquido fervendo para que o cristão sonhe uma única noite muitas vidas diferentes.”
Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, não para Emilie. No jardim tu ainda encontras os tajás e as trepadeiras, separadas das plantas ornamentais. Emilie plantou as mudas naquele tempo e, aconselhada por Anastácia, preparou um adubo com esterco de galinha e carvão em pó para ser misturado à terra, de sete em sete dias durante sete meses. O resultado é a espessa muralha verde musgo que cerca a fonte, e o matagal de tajás vizinho ao galinheiro. Lembro que ali existiam ninhos de cobra, e muitos galináceos pereceram, vitimas dos ofídios. Emilie deu pouca importância ao fato. “Prefiro conviver com cobras a ter que suportar uma ponta de inveja desse ou daquele”. Costumava dizer.
Anastácia falava horas a fio, sempre gesticulando, tentando imitar com os dedos, com as mãos, com o corpo, o movimento de um animal, o bote de um felino, a forma de um peixe no ar á procura de alimentos, o vôo melindroso de uma ave. Hoje, ao pensar naquele turbilhão de palavras que povoavam tardes inteiras, constato que Anastácia, através da voz que evocava vivencia e imaginação, procurava um repouso, uma trégua ao árduo trabalho a que se dedicava. Ao contar historias, sua vida parava para respirar: e aquela voz que trazia para dentro do sobrado, para dentro de mim e de Emilie, visões de um mundo misterioso: não exatamente o da floresta, mas o do imaginário de uma mulher que falava para se poupar, que inventava para tentar escapar ao esforço físico, como se a fala permitisse a suspensão momentânea do martírio. Emilie deixava-a falar, mas por vezes seu rosto interrogava o significado de um termo qualquer de origem indígena, ou de uma expressão não utilizada na cidade, e que pertencia à vida da lavadeira, a um tempo remotíssimo, a um lugar esquecido á margem de um rio, e que desconhecíamos Naqueles momentos de duvida ou incompreensão, de nada adiantava o olhar perplexo de Emilie voltado para mim: permanecíamos, os três, calados, resignados a suportar o peso do silencio, atribuído aos “truques da língua brasileira”, como proferia minha mãe. Aquele silêncio insinuava tanta coisa, e nos incomodava tanto...Como se para revelar algo fosse necessário silenciar. Para Emilie, talvez fosem momentos de impasse, de aguda impaciência diante da permanência da duvida. Mas era Anastácia quem rompia o silencio: o nome de um pássaro, ate então misterioso e invisível, ela passava a descreve-lo em minúcias: as remiges vermelhas, o corpo azulado, quase negro, e o bico entreaberto a emitir um canto que ela imitava como poucos que têm o dom de imitar a melodia da natureza. A descrição surtia o efeito de um dicionário aberto na pagina luminosa, de onde se fisga a palavra-chave; e como sentido a surgir da forma, o pássaro emergia da redoma escura de uma árvore e lentamente delineava-se diante de nossos olhos.

(Relato de um Certo Oriente, págs. 85-92)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

GÊNESIS - criações de alunos

Deus estava entediado com o infinito, com sua monotonia, sempre a mesma ausência de cor, som, movimento, nunca variava. E lá estava Ele, parado no espaço vazio sem fronteiras, sem distrações ao alcance dos Seus olhos, e olha que Sua visão alcançava longe. Estava dentro do nada, que se localizava antes do alfa, portanto muito antes do ômega, e é claro, antes do a do alfa. Como o nada era uma enorme escuridão, não fazia diferença ficar com os olhos abertos ou fechados. Deus mantinha os olhos fechados e ninguém nunca soube exatamente a razão. Alguns politeístas diziam que era porque ele tinha medo de, ao abrir encontrar outros deuses; Zeus brincando com seus relâmpagos; Baco girando sua cueca no ar com uma mão enquanto a outra segurava uma garrafa de vinho. Os ateus afirmavam que era porque ao olhar-Se no espelho, Sua imagem não refletiu como acontece normalmente com todos os seres viventes, mesmo com os inanimados, portanto não existe, no entanto o grande poeta falou a eles: respirem, estufem os pulmões e devolvam ao mundo o ar que nos faz viver e envelhecer, que não reflete, que apesar disso, existe, que não é Deus, este, não reflete e, como o outro, existe. Ficaram sem argumentos, depois de um tempo o poeta sumiu misteriosamente e voltaram a nega-Lo. Os agnósticos deram sua opinião em uma breve nota ríspida – se Ele está ou não com os olhos fechados, o problema é dele, só não venha me encher o saco! As especulações foram inúmeras. Depois todos chegaram ao consenso de que isso era uma coisa estúpida demais para se discutir. E acabou o assunto.
Foi então que Deus levantou-Se, estralou as costas, alongou os braços e com as mãos acima da cabeça como um pianista prestes a atacar o piano, pronunciou Sua vontade, e como chicotes bailando no ar, suas mãos lançaram-se para frente. Alguma coisa aconteceu no principio. Estavam criados, céus e terra. Em seguida veio a grande pergunte na solidão divina: o que fazer com isso agora?
A terra parecia um quadro surrealista, como os de Dali, as coisas estavam sem nexo, havia trevas sobre o abismo pra cá, o Espírito de Deus pairando sobre as águas pra lá. Deus tinha resolver aquela mixórdia. Foi então que, sentado em uma pedra que tinha o formato de uma tartaruga que tinha o casco com formato de uma pedra, que Deus disse: Eureka! E saiu pelado correndo e gritando pelo universo. A essa compreensão súbita do que fazer e como fazer, Ele chamou de luz, e, como não havia ninguém por perto, registrou a luz em Seu nome. Em seguida decidiu que ela era boa. Disse Deus: haja luz! E não é que houve mesmo. Depois chamou a luz, dia, e as trevas, noite. Não conseguiu pensar em nomes melhores, então manteve esses mesmos. Ao ver as águas boiando no ar, e depois de inúmeras vezes a areia entrar nos olhos e ser atropelado por enormes rochas, inclusive as que se pareciam com tartarugas, resolveu que criar a gravidade seria uma boa. E foi bom. Feito isso, delimitou o lugar de todas as coisas, isso é, as águas e a terra. Os céus e terra ficaram mais realistas no segundo dia.
No terceiro dia separou de vês as águas da terra, e fez o que mais gostava, dar nomes. A porção seca chamou de terra, e a outra de mares. A terra produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, e arvores que davam fruto segundo ... enrolou a erva, fumou, e viu que era do bom. Com uma maçã suculenta que acabara de morder e um sorriso bobo no rosto, apreciava o crepúsculo enquanto mastigava com a boca aberta. Houve manhã e tarde no terceiro dia.
Deus percebeu uma tremenda gafe em sua criação, criou o dia e a noite antes do sol e da lua. Dizem que esse é motivo do riso das hienas, mas isso, assim como o tempo, é apenas lenda. Apesar da gafe, o primeiro impulso que O motivou a criar os tais luzeiros era para saber a hora do almoço e do jantar, e assim, melhorar sua alimentação, e ao mesmo tempo separou a luz das trevas. Deu sentido ao dia e a noite e ainda entrou em forma. Isso só poderia ser bom.
O quinto dia prometia. Nele seriam criadas uma das principais atrações desse circo, que chamamos de mundo. Criou, pois, seres viventes nas águas, que, conseqüentemente se molharam. Criou as aves, e que voem sobre a terra, sob o firmamento dos céus. Apesar das asas, o mundo, como tal, era, e é, uma grande gaiola, e não havia como sair, o fato de chegar a lua, a marte, a put ... a toda parte, apenas ressaltava os limites da prisão e o pesadelo da vida. Ao invés de expandirmos a alma, a retraímos e a atrofiamos em beneficio da competição, do desejo de ser melhor que o outro. Trocamos a beleza da alma pela mesquinharia de um jogo fútil. Mas deixemos essa reflexão de lado, como sempre deixamos. Onde estávamos mesmo ? ah sim, os seres ... bem, os seres vivos estavam na terra, prontos para comer, correr, se reproduzir e serem assados nos churrascos de fim de semana, mas para isso é preciso que o fim de semana exista. Vamos lá Deus! Ele pensou sobre o mundo que criou, a vida que deu aos seres, sobre o fim de semana e viu que tudo era muito bom.
Daí o veio o sexto dia, Ele já estava com dor nas costas, e sua ambição de criar estava sendo consumida pela sua preguiça. Estava cansado. Criar o mundo, as estrelas, o universo e todas as coisas, cansa. E com os olhos quase fechando fez o homem. Este ficou no bolso de Dele para terminar mais tarde, só que, descuidado, deixou cair. Foi parar na terra, fato que alterou seu pensamento. A sensação de superioridade afastou-o do sentido da vida à medida que evoluía. Mais a liberdade dada por Deus, o homem vivia no topo da hierarquia, isso, segundo ele, é claro. O homem é a imagem de Deus, mas para que serve o apêndice e as sobrancelhas em um deus ? ou em um homem ? Depois de acordar da cochilada pós-almoço, Ele foi terminar de fazer o homem, colocou a mão no bolso, ficou surpreso, não estava. Foi achar na terra, feio, arrogante e deformado em prol da queda. Oh céus! Pensou. Desanimado demais para fazer qualquer coisa, sentou, pegou a bacia de pipoca, relaxou, e está até hoje assistindo, vendo aonde esse mundo vai parar. Enquanto espantava uma mosca que rodeava seu ouvido divino, pensou: da próxima vez faço direito, sem acidentes, em cinco dias apenas ! Colocou sal na pipoca, jogou para cima e ela caiu certeira na boca, e viu que agora estava boa. Tudo estava bom. Bem. Quase.

Eduardo Ferreira

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Feira de Livro SESC Paraná

De 30 de setembro à 04 de outubro, no Memorial de Curitiba
Mais informações http://feiradelivros.blogspot.com
O texto abaixo foi retirado do blog do evento.
As Feiras de Livro realizadas pelo SESC constituem-se numa das ações mais tradicionais desenvolvidas pela Entidade. Com a realização, ao longo de duas décadas, milhares de pessoas tiveram a oportunidade de entrar em contato com a literatura, de maneira lúdica e estimulante. Em algumas situações, o evento alcança municípios nos quais é, muitas vezes, o único evento cultural disponível para a população.

A edição de 2008, que acontecerá simultaneamente no período de 30 de setembro a 04 de outubro em 22 Unidades do Sesc no Paraná, traz como temática "Literatura e Tecnologia". A proposta é falar sobre a confluência entre tecnologia e literatura, abordando temas como as mídias eletrônicas sendo utilizadas como suporte para publicação e apresentação literária.

O evento faz ainda homenagem ao escritor Machado de Assis, no centenário de sua morte. O autor e sua obra serão lembrados por meio de exposição, palestras e performances literárias.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

GÊNESIS - criações de alunos

Criação

No princípio
Os céus e a terra.
E veio a treva e o lodo.
Em tudo respirava Seu Espírito.
E Ele quis a luz
Então, conteve na noite a treva.
E a luz, espalhou-a pelo dia
Que aconteceu vez primeira.

As águas achavam-se
Espalhadas pela superfície,
E acima dela, desordenadamente.
Ele quis que as águas reunissem-se
Acima , as de cima, nas nuvens,
E abaixo, as da superfície.
E veio a noite, e depois, outro dia.

Ele desejou ter terra úmida.
As águas juntaram-se
Nos rios e oceanos.
Gostou disso. Mandou que a terra úmida
Vestisse-se de relva, ervas ,
Árvores frutíferas, cheias
De sementes de vida nova.
Anoiteceu e amanheceu.

A noite era muito escura
Ele colocou nos céus estrelas,
Planetas e tantos outros.
Mas sentiu que não estava bom
Criou a lua para acompanhar
A noite da terra,
E o sol para fazer o dia.
E os dois; sol e lua
Para ditar as normas do ano.
Outra vez veio a noite
Seguida de outro dia.

Sentiu a fecundidade das águas
E povoou-a de peixes, junto com eles
Imensa quantidade de animais marinhos.
Sobre a terra espalhou as aves
De toda a cor, espécie e canto.
Os seres rastejantes foram criados
Nas águas, depois delas puderam sair.
Ele amou-os a todos, pois abençoou-os
Com o poder da procriação.
E a noite chegou trazida pela lua.
O sol a sucedeu trazendo outro dia.

Ele viu que tudo era agradável
Mas sentiu solidão.
Então ambientou
Sobre e abaixo da relva, por toda parte, insetos
E animais selvagens de toda espécie.
E também os mansos e os amigáveis
E viu que era bom tudo o que fizera.
Pois as aves cantam, as ervas florecem,
E as árvores frutíferas enchem as florestas
E jardins, com sabores e aromas deliciosos.
O sol, a lua, os astros Brilham em seus momentos
Fazendo belos os dias e as noites.
As águas de cima caem em gotas prodigiosas
Umidecendo a relva e visitando as debaixo.
Os peixes enchem os rios e mares.
Os animais procriam, a terra produz.
Mas Ele ainda sentiu-se só!
E igual a Sua Própria Imagem
Criou o homem, e do homem
Criou a mulher.
E os amou Os abençoou, lhes deu a terra
E tudo que nela criou.
E eles a receberam de Seu amor.

Assim se sucederam os dias e as noites.
Sendo Ele o Senhor e o Tempo.

Stela Siebeneichler

GÊNESIS - versões - poesia brasileira

O COMEÇO DO MUNDO
Antônio Simplício – Bela Vista

Quanu Deus feis u mundu
Foi cum grandi nepetenti,
Foi formadu in seis dia
Mais foi todu deferenti;
Feis us matu e feis us campu
Prá fiça lindu i diante
Feis Adão e feis a Eva
Pois nu mundu pra sementi.

Feis Adão e feis a Eva
Pois nu mundu pra sementi,
I formô-si um paraisoI deu êlis di presenti;
Não precisa tê orgulhu
Qui nóis tudu samu parenti,
Nois tudu samu irmão
Di Adão samo decendenti.

Feis us artu i as baxada,
Feis us corgu i as vertenti,
Tamém feis a bicharada
Ondi tem bichu valenti,
I formô-si a riligião
Pra vê us quali qui é crenti,
Deu toda a livre vontadi
Pra vê quem tinha boa menti.

Feis a África e feis a Itália,
I também feis u Japão,
I despois feis a Turquia
Ondi tem turquim pagão.
I tamem feis a Inglaterra
Qui é da mesma nação,
Colocô u mar nu meiu
Prá fazê separação.

Feis as iscritura sagrada
I formô-si a riligião,
Agora vamu vê
U quali é qui é mais cristão,
Vamu tudu pelejá
Pra ganhá a sarvação.
Quis us prazê desse mundu
Num passa de ilusão.

GÊNESIS - versões - poesia brasileira

Primeiro não havia nada
Nem gente, nem parafuso
O céu era então confuso
E não havia nada
Mas o espírito de tudo
Quando ainda não havia
Tomou forma de uma jia
Espírito de tudo

E dando o primeiro pulo
Tornou-se o verso e reverso
De tudo que é universo
Dando o primeiro pulo
Assim que passou a haver
Tudo quanto não havia
Tempo pedra peixe dia
Assim passou a haver

Dizem que existe uma tribo
De gente que sabe o modo
De ver esse fato todo
Diz que existe essa tribo
De gente que toma um vinho
Num determinado dia
E vê a cara da jia
Gente que toma um vinho

Dizem que existe essa gente
Dispersa entre os automóveis
Que torna os tempos imóveis
Diz que existe essa gente
Dizem que tudo é sagrado
Devem se adorar as jias
E as coisas que não são jias
Diz que tudo é sagrado

E não havia nada
Espírito de tudo
Dando o primeiro pulo
Assim passou a haver
Diz que existe essa tribo
Gente que toma um vinho

Diz que existe essa gente
Diz que tudo é sagrado

(Caetano Veloso)

GÊNESIS I - tradução

No começar Deus criando
O fogoágua e a terra

E a terra era lodo torvo
E a treva sobre o rosto do abismo
E o sopro-Deus
Revoa sobre o rosto da água

E Deus disse seja luz
E foi luz

E Deus viu que a luz era boa
E Deus dividiu
Entre a luz e a treva

E Deus chamou à luz dia
e à treva chamou noite
E foi tarde e foi manhã
Dia um

E Deus disse
Seja uma arcada no seio das águas
E que divida
Entre água e água

E Deus fez a arcada
E dividiu entre água sob-a-arcada
E água sobre-a-arcada
E foi assim

E Deus chamou a arcada céufogoágua
E foi tarde e foi manhã
Dia segundo

E Deus disse que se reúnam as águas
Sob céufogoágua num sítio uno
E que abiste o seco
E foi assim

E Deus chamou ao seco terra
E às águas reunidas chamou mar-de-águas
E Deus viu que era bom

E Deus disse que vice a terra de relva
De erva que gere semente
De árvore-de-fruto que dê fruto de sua espécie
Com a semente dentro por sobre a terra

E foi assim
E a terra vicejou relva
Erva que gera semente de sua espécie
E a árvore que dá fruto
Com a semente dentro por sobre a terra
De sua espécie
E Deus viu que era bom

E a terra vicejou relva
Erva que gera semente de sua espécie
E árvore que dá fruto com a semente dentro
De sua espécie
E Deus viu que era bom

E foi tarde e foi manhã
Dia terceiro

E Deus disse sejam luminárias
No arco do céufogoágua
Para dividir entre o dia e a noite
E para ser quais sinais para as estações
E para os dias e os anos

E que sejam luminárias no arco do céufogoágua
Para iluminar a terra
E foi assim

E Deus fez os dois luzeiros grandes
O luzeiro maior para a regência do dia
E o luzeiro menor para a regência da noite
E as estrelas

E Deus os deus ao arco do céufogoágua
Para iluminar a terra

E para reinar sobre o dia e sobre a noite
E para dividir
Entre a luz e a treva
E Deus viu que era bom

E foi tarde e foi manhã
Dia quarto

E Deus disse
Que as águas esfervilhem
Seres fervilhantes alma-da-vida
E aves voem sobre a terra
Face à face do céufogoágua

E Deus criou
Os grandes monstros do mar
E todas as almas-de-vida rastejantes

Que fervilham nas águas segundo sua espécie
E todas as aves de pena segundo sua espécie

E Deus os bendisse dizendo
Frutificai multiplicai cumulai nas águas
Do mar-de-águas
E que a ave multiplique na terra

E foi tarde e foi manhã
Dia quinto

E Deus disse produza a terra almas-de-vida
Segundo sua espécie
Animais-gado e répteis e animais-feras
E foi assim

E Deus fez os animais-feras segundo sua espécie
E os animais-gado segundo sua espécie
E todos os répteis do solo segundo sua espécie
E Deus viu que era bom

E Deus disse
Façamos o homem à nossa imagem
Conforme-a-nós-em-semelhança
E que eles dominem sobre os peixes do mar
E sobre as aves do céu
E sobre os animais-gado e sobre a terra
e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra

E Deus criou o homem à sua imagem
À imagem de Deus ele o criou
Macho e fêmea ele os criou

E Deus os bendisse
E Deus lhes disse
Frutificai multiplicai cumulai na terra
E subjugai-a
E dominai sobre os peixes do mar
E sobre as aves do céu
E sobre todo animal que rasteje sobre a terra

E Deus disse
Eis que vos dei
Toda a erva que gera semente
Sobre a face de toda terra
E toda a árvore onde o fruto-das-árvores
Gera semente
Isto vos caberá por alimento

E para todo animal da terra
E para toda ave do céu
E para tudo o que rasteja sobre a terra
Com alma-de-vida dentro
A erva o verde-todo-verdura
E foi assim

E Deus viu o seu feito no todo
E eis que era muito bom
E foi tarde e foi manhã
Dia sexto

(Tradução Haroldo de Campos)

sábado, 6 de setembro de 2008

Textos-fonte - encontros 1, 2 e 3


Caricaturas feitas por Filipe Fleixeira.
GÊNESIS I
No princípio, criou Deus os céus e a terra.
A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
Disse Deus: Haja luz; e houve luz.
E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas.
Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez.
E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.
Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez.
À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom.
E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez.
A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.
Houve tarde e manhã, o terceiro dia.
Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.
E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez.
Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas.
E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra, para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.
Houve tarde e manhã, o quarto dia.
Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus.
Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.
E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves.
Houve tarde e manhã, o quinto dia.
Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez.
E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.
Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.
E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.
Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia .
(Biblia, versão Almeida. Tradução João Ferreira de Almeida, 1648).

V i s õ e s d o O r i e n t e

Visões do Oriente é um projeto aprovado pelo Programa de Incentivo à Ação Cultural do Fundo Municipal de Cultura e supervisionado pela Coordenação de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba. A oficina trará textos cuja fonte original é o Oriente, Palestina, Índia, China, Japão. Textos da Bíblia, fábulas, lendas, contos populares e textos recriados a partir destes textos. Na segunda fase, leituras especificas sobre a cultura e poesia japonesa e sua influência no Ocidente. Leituras e discussões em grupo, a partir de textos de orientação. A principal ferramenta da oficina é o diálogo. Não é curso de literatura nem as discussões são definitivas. HorárioEncontros: Sábados, 14 às 18 horasIntervalo 16h 15 min Agenda20 encontros – 16 de agosto de 2008 a 09 de maio de 2009


Ministrante: Marilia Kubota
Biblioteca Rua da Cidadania Pinheirinho
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA

Inscrições até 31 de julho – Terminal do PinheirinhoTelefone e informações : Biblioteca Pinheirinho : 3212-1514 (Paulo)Feira do Poeta: 3321-3317 (Jussara)Requisitos: Mais de 18 anos, 2º. Grau completo, justificativa para participar e 3 textos de ficção (poesia ou prosa) de sua autoria. Doação de um livro de ficção novo na inscrição.INICIO 16 DE AGOSTO - Encontros quinzenais aos sábados

Textos bíblicos são literatura ? Sim. E contos populares ? Também. Visões do Oriente estudará como chegaram estes textos até nós e suas várias versões rearranjadas na poesia, na música popular, no cinema e em outras artes. E ainda, a visão de orientais na América – árabes, judeus e outras etnias, compondo o coro das vozes da diversidade étnica. A oficina é uma homenagem da escritora, descendente de japoneses, aos 100 anos da Imigração Japonesa ao Brasil, comemorado até 2009.

Mais informações – marilia.kubota@gmail.com , 9128-0814 e com Paulo, na Rua da Cidadania.
Marilia Kubota é escritora e jornalista. Escreve e publica ficção há 17 anos. Tem publicadas cinco antologias, no Brasil, Portugal e Argentina e um livro de poesia. Organizou o Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato e a exposição Arte Nikkei. Desde 2005 orienta oficinas de leitura e criação na Fundação Cultural de Curitiba. É editora do site Escritoras Suicidas (www.escritorassuicidas.com.br ), autora do blog Micropolis (http://www.micropolis.blogspot.com/) e trabalha para a comunidade nipo-brasileira de Curitiba.