tag:blogger.com,1999:blog-86021941304782658982024-03-14T00:41:38.825-07:00VISÕES DO ORIENTEoficina de análise e criação literária
FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBAMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.comBlogger22125tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-62425336377834688822009-12-02T03:22:00.001-08:002009-12-02T03:29:00.817-08:00CONTO PREMIADO EM CONCURSOO conto <a href="http://visoesdooriente.blogspot.com/2008/09/gnesis-criaes-de-alunos_12.html">"Gênesis</a>", paródia feita por Eduardo Ferreira Fontana do poema bíblico "Gênesis", primero texto estudado nesta oficina, foi premiado em concurso. O concurso foi realizado pelo Departamento de Letras da Faculdades Santa Cruz, de Curitiba. Eduardo ganhou, como prêmio, um MP4. Segundo ele, agora vai poder ouvir suas canções prediletas em MP3.Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-38980603226789075822009-05-25T04:02:00.000-07:002009-05-25T04:14:28.705-07:00UM CONTO PARA LARISSAO cavalo Tordilho corria no campo, alegre e feliz, pois era domingo. Ele não estava com os arreios atrelados. Isso significa dia todo sem puxar carroça ou sem carregar ninguém nas costas. O sol recém-nascido brilhava como ouro no céu, até parecia a colcha de seda azul que a senhora havia lavado e estendido no varal um dia antes. Como brilhava o azul da colcha exposta ao sol.<br />Tordilho vendo o azul da colcha espalhado no céu ficou feliz. Galopava, troteava, marchava, num vai pra lá, vem pra cá, sem parar! De repente para assustado. Para e pensa com as pequenas peças de arreios que estão na cabeça:<br />“Tem alguma coisa no céu. É uma estrela! Será uma estrela? De dia? Que estrela mais louca! Olhem quantas pontas tem aquela estrela.” Ficou de queixo caído com a visão de estrela de dia. Mas continuou a passear pela coxilha. De vez em quando espiava o céu para ver se a estrela continuava lá, dependurada, bem baixo, no céu azul de colcha de seda. <br />Os pássaros cantam alegres! Voam de galho em galho, nos pinheiros, nos butiás, nas macieiras. Muitos, muitos pássaros! O cavalo acha que alguma coisa está errado com os pássaros: sacode as orelhas, uma pra frente outra pra trás. Para, fica a observar. <br />Tenta chegar a uma conclusão:“Passarinho com asas de nuvem? Onde já se viu? Só porque sou um cavalo de trabalho? Só porque é domingo estou vendo coisas?” Tordilho parou de galopar, ficou em silêncio debaixo do pé de prata. Só olhando., olhando para o céu.<br />Um avião que vem vindo lá das bandas de Buenos Aires chama a atenção do cavalo e dos passarinhos, com os olhos fixos na estrela que parece estar pulando de raiva. Tordilho e os passarinhos de asas de nuvem ficam espantados com o que está acontecendo no céu:<br />A estrela está braba porque o avião passou no caminho dos fios das raias com as quais ela estava brincando. Raias lindas! Coloridas, com rabiolas cheias de lacinhos. E as rabiolas estão caindo lá do céu.O avião continua voando, voando, indo lá pros lados de Curitiba. As raias presas nas asas do avião vão embora com ele. A estrela de tão triste ficou com as pontas tortas, fora de lugar, e está desaparecendo devagarinho, devagarinho. Está indo embora tão devagar que Tordilho quase dorme olhando pra ela. A estrela acaba sumindo e o céu fica só que um azul de seda novamente.<br />O cavalo agora descansado e tranqüilo vai à procura de moitas frescas bem verdinhas para fazer um lanchinho gostoso, natural e digno de um cavalo de trabalho, em plena folga de domingo. <br />Escolheu uma touceira de capim fininho e foi chegando à moita, já sentindo o sabor do capinzinho fresco e macio. Quando um dos passarinhos de asas que parecem nuvens sai desesperado da moita Tordilho derruba o queixo novamente.<br />Na moita escolhida havia um ninho dos passarinhos estranhos. Não era um ovo nem um passarinho que dormia na moita. Era um anjinho, com rodela na cabeça e tudo! Os pássaros, que eram três, se colocaram entre o anjinho e o cavalo para protegê-lo contra Tordilho.<br />O cavalo que não fazia mal a ninguém muito menos a um anjinho ficou triste. Baixou as orelhas em sinal de servidão como é acostumado a fazer com seu dono quando ele vem com os arreios para atrelá-lo à carroça, ou para levar seu dono em seus caminhos de fazendeiro. Sempre dócil resignado e paciente. <br />Enquanto isso o anjinho foi se espreguiçando, espreguiçando. Se esticou todinho, se pôs em pé, olhou para Tordilho, procurou por alguma coisa que estava no chão. Se abaixou e pegou um arco com uma flecha dourada que mostrou para o cavalo. Tordilho relinchou assustado:”É uma flecha!” Pensou: ”Que faz um anjinho com uma flecha?” <br />Mas Tordilho é um cavalo esperto. Lembrou de um calendário pendurado no paredão do paiol, com a figura de um anjinho sapeca que se chama Cupido. E todo mundo sabe que esse tal de Cupido é responsável por acertar os corações com as flechas do amor e das paixões. <br />Agora é que Tordilho ficou mais perplexo! “Que é que o Cupido estaria fazendo ali domingo à tarde? Sem viva alma humana naquele pasto?” Cupido, muito inteligente, compreendeu a aflição do cavalo. Tentou explicar tudo:<br />- Cavalo Tordilho, é esse seu nome, não é ? Como vês todos estamos aqui neste lugar de completa paz. Por enquanto, diga-se de passagem, pois logo os homens vão transformá-lo em pastagens. Todos somos iguais às crianças da terra. E como não havia ninguém aqui, nem humano nem celeste para brigar com a gente, resolvemos parar para brincar um pouco. Brinquei tanto com aquela estrelinha danadinha e meus amigos passarinhos de Júpiter que resolvi dormir um pouquinho. Aí você apareceu. Quer brincar conosco?<br />Ao que Tordilho respondeu: <br />- Epa! Sou muito grande! Vou acabar machucando vocês! Me deixem ficar aqui perto vendo vocês brincarem?<br />- Tá bom. Se quiser, pode ficar aqui , concordou o Cupido. <br />Tordilho saboreou a moitinha escolhida e se espalhou sobre a grama fresca debaixo do pé de prata. Passarinhos pra cá, anjinho pra lá. Algazarra no pé de prata, no pasto, na sanga. Afinal, eram crianças brincando! O tempo passou, O cavalo acabou dormindo. E o anjinho e os passarinhos foram embora.<br />Ao anoitecer, um peão da fazenda foi buscar Tordilho para colocá-lo na baia e deixar tudo pronto para a segunda-feira cedo.<br />Tordilho ficou triste quando percebeu que tudo tinha sido um sonho de cavalo velho e cansado da lida. Resignado, de cabeça baixa, foi obedecendo ao peão que puxava a correia do cabresto com força.<br />Passou pelo varal e lembrou da cor da colcha de seda azul de céu. Olhou outra vez e viu no varal um daqueles passarinhos deixando uma pena de nuvem presa num prendedor de roupas, fazendo sinal para que Tordilho não esquecesse deles. O cavalo fez sinal de resposta pedindo ao passarinho que prendesse a pena na sua cabeça, nas tiras dos arreios. <br />Quando entrou no paiol a caminho da baia passou pela parede onde está dependurado o calendário e ficou feliz. A semelhança da figura com o cupido da coxilha era tanta que não teve dúvidas que estiveram juntos na tarde de domingo.<br /><br />Stela SiebeneichlerMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-77501510860004984582009-05-24T12:49:00.000-07:002009-05-24T13:22:44.804-07:00FESTA FIM DE ANO OFICINAS FCC<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ynkBc1uMC7Zjgpu40brS9j1QCJ221bf9LqQmOHDJPoP_jO_ZoGrNb7G1ZFIgsu0Rau8aFuoNZTKhleJKst9cWy_wezO5Tl1wI7yaV3iPN7tvMzAlYboir5gD5dhGsYKn6AxsInn_-SM/s1600-h/evelynedueeu.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2ynkBc1uMC7Zjgpu40brS9j1QCJ221bf9LqQmOHDJPoP_jO_ZoGrNb7G1ZFIgsu0Rau8aFuoNZTKhleJKst9cWy_wezO5Tl1wI7yaV3iPN7tvMzAlYboir5gD5dhGsYKn6AxsInn_-SM/s200/evelynedueeu.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339482680992949410" /></a><br /><br />Evelyn, aluna de Jane, à frente e professora e aluno ao fundo<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZv12mz6j8l4uLhxVWUJxb_cPoi6iL03PqUuxNAni11LVa3U4pgEINPbQ1aAKIvXOx6xfCCVBuh5-Nd5sgRcUO55hlwM-QKJRwStcjNYjwhZhBgdCjLadG0TPRc1EIZXuDeDEqJeySMt8/s1600-h/edueeu.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZv12mz6j8l4uLhxVWUJxb_cPoi6iL03PqUuxNAni11LVa3U4pgEINPbQ1aAKIvXOx6xfCCVBuh5-Nd5sgRcUO55hlwM-QKJRwStcjNYjwhZhBgdCjLadG0TPRc1EIZXuDeDEqJeySMt8/s200/edueeu.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339482297954046482" /></a><br /><br />Edu e eu<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbHsH7yQLhUnjwLQUed_ZcGb90rlZ4-HFRea7ZhPzg2q1TpoRCouNj-Qr51aQvOaF0TEsS9tzQaZxW0M279IObpow7LIawpXmprtsdxsciE-ifuvCczpOIaaTt1cH2arAsKbP6NqO9KUQ/s1600-h/stelamyllemeninasjane.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 150px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbHsH7yQLhUnjwLQUed_ZcGb90rlZ4-HFRea7ZhPzg2q1TpoRCouNj-Qr51aQvOaF0TEsS9tzQaZxW0M279IObpow7LIawpXmprtsdxsciE-ifuvCczpOIaaTt1cH2arAsKbP6NqO9KUQ/s200/stelamyllemeninasjane.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339481615822859938" /></a><br /><br />Stela, Mylle, Evelyn & ThabataMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-40965186021462159752009-05-24T05:34:00.000-07:002009-05-25T09:03:05.878-07:00A AMIZADE, O CAMINHO, O LEQUE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkZioY9Iz2LwcW4DpsT208ZWYc5TPoJb7hy4G7s7qlEytLKU7nvY2HahDeW-_MYskAbVUG1yzFH3awsSIgNLLjBoeUgmuCXKfK378GGpGX5DSxex_q_d4RH-LK5X8jqsusNiLW8nHqmQ8/s1600-h/linebambu.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 140px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkZioY9Iz2LwcW4DpsT208ZWYc5TPoJb7hy4G7s7qlEytLKU7nvY2HahDeW-_MYskAbVUG1yzFH3awsSIgNLLjBoeUgmuCXKfK378GGpGX5DSxex_q_d4RH-LK5X8jqsusNiLW8nHqmQ8/s200/linebambu.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339792720045942786" /></a><br /><br />Sentada na escada da varanda, Yumi aguardava a chegada da mãe que fora para a venda ajudar a seu pai na organização dos mantimentos recém chegados da ultima encomenda. Yumi , tranqüila, pega sua flauta e toca uma música que fazia tempo não executava . De vez em quando parava , ficava em silêncio , tentando ouvir algum ruído diferente que viesse junto ao farfalhar das folhas do bambuzal. Tinha a esperança de que a raposa Lin, viesse para uma visita, pois fazia tempo que o filhote de raposa não aparecia para contar como estava bonito o bambuzinho, que já não era mais um brotinho, mas um jovem e esbelto bambu. Ou para contar como está indo em seu novo estágio de treinamento para as transformações a que todas as raposas devem se submeter até estarem prontas para qualquer transformação necessária em suas vidas mágicas. <br />Yumi se sentindo forte e corajosa resolveu se aventurar pela estradinha que leva para o lado do bambuzal. Com o vento soprando suavemente, batendo com a força de uma brisa leve com cheiro de flores de pessegueiro e folhas de bambu no rosto da menina, ela avança despreocupada rumo ao bambuzal. A estradinha seguindo seu curso que acompamha a plantação de pêssegos desvia do bambuzal afastando Yumi de casa e também do seu objetivo que é chegar perto do bambuzal. E se tiver sorte, encontrar Lin e conhecer o jovem bambuzinho, outras raposas, ouvir de perto os pássaros cantores , dos quais Lin já falou tanto. <br />Yumi segue segurando forte em sua mão a flauta, como se ela conhecesse o caminho de tanto transformar em música o sopro da Yumi na direção do bambuzal. De repente o caminho se abre em dois, um seguindo seu curso normal. O outro abrindo conforme a vontade de Yumi e seus passos dirigidos pelo vento e o cheiro de bambu, agora só de bambu pois a plantação de pêssegos já ficou para trás. <br />O farfalhar das folhas penetra forte nos ouvidos da menina. O bambuzal é maior que a imaginação de Yumi. Quanto mais ela anda mais se embrenha em seu interior. Sentindo insegurança, está aflita. Seus pés pisam a folhagem áspera e cortante, não sentem mais o caminho. Em desequilíbrio cai. Chora . Chama por Lin. <br />- Lin! Você está aqui? Estou perdida! Tive vontade de conhecer o bambuzal mas perdi a direção e também o caminho. Como voltarei para casa? A raposa Lin atende de pronto ao pedido de ajuda da amiga Yumi. <br />- Estou aqui pertinho de você. Vem comigo. Vou te mostrar meu amigo bambu! <br />Lin oferece a mão de menino para a garota e com ela segue pelos carreiros dos animais que moram ou transitam no bambuzal. <br />- Que foi que aconteceu para você sair assim sozinha de casa? <br />- Me senti sozinha e sempre tive vontade de saber como é um bambuzal... Você sabe que para mim saber como é alguma coisa , preciso tocar, sentir. E além disso já estou bem crescidinha para fazer alguma coisa que eu queira. Cheguei aqui, mas agora não sei voltar para casa. Isso não preocupou Yumi por muito tempo. Lin prometeu que a ajudaria a voltar para casa. Lin chegou com a menina bem pertinho do amigo bambuzinho. <br />-Yumi, coloque a mão aqui no toco do bambuzinho, sinta como ele está grande e forte! Ele também está muito alto! <br />-Amiga, toque uma música na tua flauta - pede o bambuzinho. - Todos aqui ouvem a tua música com muito gosto, até os pássaros param de cantar para te ouvir. <br />Yumi toca a música que ela mais gosta e logo vão chegando mais raposas para ouvi-la. A raposa mãe de Lin está entre elas. O bambuzal está em festa! A mãe de Lin fica espantada com a perfeita transformação do filhote em menino. <br />- Lin , você conseguiu! Não tem nenhum sinal de raposa em você! Não ficou aparecendo o rabinho , nem pedacinho de orelha! Essa menina é quem te ajudou a se concentrar para se transformar assim tão perfeitamente. Tenho um presente para ela! <br />E foi tirando de algum lugar de seu corpo mágico , um bonito leque feito de bambu lascado e seda colorida. Colocou-o nas mãos de Yumi com recomendações de cuidados e prometeu que ela ainda seria uma pessoa muito feliz e a beleza seria constante em sua vida: <br />- Menina, este leque é mágico! Conforme você for abanando seu rosto com ele irá apagando as sombras que ocultam a luz da tua vida. <br />Yumi , feliz, agradece e despede de seus novos amigos com mais notas musicais. Depois guarda a flauta no bolso e procura a mão de Lin para que ele lhe mostre o caminho de volta. <br />- Você não precisa de minha mão, mas de teus pés no caminho. Sinta como você esta andando com segurança! Abane o leque na frente de teus olhos. O leque vai te mostrar a luz e eu estou transformado em caminho para te conduzir até a tua casa , como te trouxe desde a curva dos pessegueiros. <br />O farfalhar do bambuzal com canto de pássaros virou música de despedida para Yumi que foi caminhando bem devagar até chegar em casa já bem cansada e ficar por mais algum tempo sentada na varanda esperando que sua mãe volte da venda, tocando em sua flauta músicas bem alegres em agradecimento à raposa Lin por tê-la conduzido em sua viagem até o bambuzal e depois se tranformar em caminho novamente até que ela chegasse em casa. <br />Guarda a flauta num dos bolsos e tira o leque do outro bolso balança-o em frente aos olhos demoradamente O ar refrescante que sai do movimento do leque acaricia seu rosto e penetra em seus olhos. <br />O sol se põe atrás do bambuzal. Yumi vê na curva dos pessegueiros a mãe chegando.<br /><br />Stela Siebeneichler (sequência imaginária de "Lin e o outro lado do bambuzal", fábula infanto-juvenil criada por Lúcia Hiratsuka)Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-21254454082754913922009-05-24T05:19:00.000-07:002009-05-25T04:30:35.030-07:00MICHIKOEnquanto colhia café, Michiko observava suas mãos calejadas e mal pagas. Já estava muito longe do sonho primeiro, da riqueza fácil que encontraria no Brasil. Seus pais, já velhos e cansados, mal conseguiam trabalhar metade do dia. Dos seus quatro irmãos, só restavam dois: Yuichi e Keiko. Os dias passavam e ela nunca encontrava uma saída para tal destino. O quanto sonhara em voltar ao Japão, ou ao menos dar a chance de seus pais voltarem. Perguntava-se sobre os tios que vira duas ou três vezes na vida, estariam vivos?<br /><br /> - Michiko! Michiko! Onde está?<br /> - O que aconteceu, Keiko?<br /> - Nosso pai... Nosso pai está morrendo!<br /> - Morrendo?<br /><br />Saíram ambas correndo numa espantosa velocidade. O coração de Michiko saltava no peito, dezenas de pensamentos inundavam sua mente, o que restava de todos os sonhos partilhados estava prestes a transformar-se em pó.<br /><br />Lembrou-se do dia em que seu pai, assustado, carregou-lhe no colo após ter machucado a mão esquerda. Michiko não tinha mais que seis anos, sua família havia acabado de desembarcar no Brasil e ninguém sabia ao certo o que estava para lhes acontecer.<br /><br />- Sai daí Michiko!<br /><br />O barulho foi aumentando, aumentando. A mulher ficou presa no chão. Sua mente esvaziou-se, nada mais ouvia nem via. Chegara ao ponto final do sonho de voltar ao Japão. Voltar. Voltar...<br /><br />Abriu os olhos lentamente, sua vista estava embaçada mas aos poucos voltava a definir os objetos. Quando estava prestes a levantar a cabeça ficou paralisada de susto: percebera, que se encontrava na antiga casa no Japão. Encantou-se ao ver os móveis, o lar simples no qual residira nos primeiros anos de vida. Por mais que de nada daquilo recordasse com clareza, mergulhou nas mais profundas e tenras memórias jamais jogadas fora.<br /><br />- Ainda! Veja, ela acordou!<br />- Não grite assim Keiko!<br /><br />Michiko sentiu os olhos marejando. Suas duas irmãs, Ainda e Keiko, ainda crianças e ao alcance das mãos. Ainda era a mais velha e falecera por causa de uma forte gripe que a derrubara por semanas. Era ainda muito jovem, deixara o marido e a filha para trás.<br /><br />- Você não fala? Será que está passando mal?<br />- Está tudo bem agora.<br />- De onde veio? Nunca te vi aqui por perto.<br />- Não faça tantas perguntas, Keiko! Deixe-a descansar.<br />- Já me sinto melhor, só me incomoda o fato de não saber ao certo como cheguei até aqui.<br />- Descanse um pouco, quem sabe você se lembre. Vou cozinhar algo para comermos.<br />- Onde estão seus pais?<br />- Trabalhando, acho. Nosso irmão Yuichi deve estar com o papai, já Michiko...<br />- A Michiko não consegue largar da mamãe... Ela bem que podia ficar aqui conosco.<br />- Michiko é nossa irmã mais nova. Chora o dia todo sem a mamãe aqui.<br /><br />A mulher sorria a cada detalhe que s irmãs relembravam. Memórias de um passado sagrado que os duros dias de trabalho nunca deram tempo de revirar. Michiko cozinhou, cantou, conversou, brincou e riu com Ainda e Keiko, mas em nenhum momento contou quem era: temia quebrar o encanto.<br /><br />Os pais chegam, bem como Yuichi e a pequena Michiko. Ao defrontar-se tão de repente com sua própria pessoa de apenas quatro anos de idade, deu-se conta de que havia voltado no tempo. Em nenhum outro momento tal pensamento havia ficado tão claro em sua mente.<br /><br />Ficou um tempo em silêncio, sequer respondia as perguntas que a família fazia. Estava encantada com a beleza daquele casal ainda jovem, seus queridos pais. Yuichi, mais velho que Keiko, já tinha um rosto cansado, mas também bastante esperto.<br /><br />- Ela estava conversando conosco tão animadamente até agora pouco!<br />- Que estranho... Será que ela está passando mal?<br />- Ela disse o nome pelo menos?<br />- Fu... Meu nome é Michiko.<br />- Mi... chiko? Qual o seu sobrenome?<br />- Fukuda... Michiko.<br /><br />Todos a olharam longamente. A pequena Michiko, depois de um tempo caminhou até a mulher e a abraçou com toda a força que possuía. <br /><br />- Seu nome é igual ao meu!<br />- É, isso mesmo. Nossos nomes são iguais.<br />- Acho que sim, mas não sei dizer como consegui chegar aqui.<br />- Com quantos anos está agora?<br />- Trinta e cinco. Estamos todos até hoje morando no Brasil.<br />- Não conseguimos juntar dinheiro algum?<br />- Não. Nós todos continuamos trabalhando como loucos para que ao menos os meus filhos e sobrinhos possam estudar tranqüilos.<br />- Mas então é melhor não sairmos do Japão.<br />- Não temos mais saída, já está tudo acertado. Nossas últimas economias já foram gastas com a viagem.<br />- Isso quer dizer que... São nossos últimos dias no Japão sem esperança alguma de voltar?<br />- Pelo menos não nos próximos trinta anos.<br />- Michiko, você sabe como voltar para o seu tempo?<br />- Não. Tudo que me lembro é que estava prestes a morrer quando fui trazida para cá.<br />- Se não descobrir como voltar até a próxima semana, não quer viajar conosco até o Brasil? Não posso te deixar para trás, afinal é minha filha.<br /><br />Michiko não conseguiu dormir, ficava pensando se gostaria de voltar ao seu tempo, já que estava vivendo grande felicidade ao lado dos pais e seu passado. A todo instante cheiros, sabores e objetos refrescavam mais suas lembranças, fazendo com que desejasse uma pausa no tempo. Também pensava nas pessoas que havia deixado para trás no Brasil, os três filhos, os irmãos e pais. Como estariam agora? Será que ela morreu e o espírito foi transportado para o passado como forma de atender ao seu último pedido? Atormentada pelos pensamentos, Michiko decide levantar e ir até um templo.<br /><br />- Finalmente você chegou Michiko.<br />- Como sabe meu nome?<br />- Não é qualquer um que consegue realizar tal feito.<br />- Então já sabe o que me aconteceu.<br />- Quando acordei essa manhã sabia que viria. O mais interessante é que parou exatamente aonde desejava. Isso é fantástico.<br />- Como cheguei aqui?<br />- Não faça tantas perguntas, primeiro olhe o que há em seus bolsos.<br />- São... Pepitas de ouro!<br />- E o que você carregava antes consigo?<br />- Era café!<br />- Todo o café que você trouxe na sua viagem transformou-se em ouro.<br />- A bolsa...<br />- Você saiu tão apressada para ver seu pai que nem deixou a bolsa na qual colocava os grãos de café recém colhidos. Há uma fortuna naquela casa agora, quantia suficiente para que sua família não precise mais voltar ao Brasil.<br />- Está tudo resolvido então!<br />- Está? Já perguntou o que aconteceu no seu tempo quando você veio até aqui?<br />- O que aconteceu?<br />- No instante em que você saltou no tempo, tudo ficou parado. Está até agora assim, só aguardando a sua decisão. <br />- Então existe uma maneira de voltar?<br />- Não exatamente. Tudo o que sei é que tem que decidir se dará ou não todo o ouro que trouxe para a sua família. Infelizmente não poderei dizer ao certo o que acontecerá. Pode ser que, mesmo que consiga mudar, toda a história da sua família tenha mudado, uma vez que você atravessou a barreira do tempo. O único fato no qual você pode interferir diretamente é na ida ou não da sua família ao Brasil.<br /><br />A mulher decidiu não contar para ninguém sobre a conversa com o monge nem sobre o ouro que carregava consigo. Apesar de questionada pelos familiares tentava desconversar e aproveitava para contar qualquer coisa maravilhosa sobre a terra distante. Michiko passou seis dias maravilhosos ao lado das pessoas que mais amava no mundo e aos poucos foi esquecendo a vida no Brasil. Foi apagando filhos, marido, tristeza e alegrias de sua memória, restando apenas o essencial em sua alma: o desejo de fazer com que sua família fosse feliz. A decisão já estava tomada. Contou sobre o ouro que tinha consigo e pediu para que não viajassem ao Brasil. Chorando muito, Michiko se despediu de sua família e dirigiu-se ao templo.<br /><br />- Sabe bem o que está fazendo?<br />- Sei. Nada será como antes mesmo que eu queira, então é melhor que fiquemos todos aqui no Japão.<br />- Sua vida inteira mudará, não tem medo do que pode acontecer?<br />- Não sinto mais medo de nada. Só quero a felicidade para a minha família.<br />- Como pode afirmar com tanta certeza de que ficar no Japão será a garantia da felicidade de todos vocês?<br />- Todos sofremos muito naquele lugar, isso ficou claro para mim. Se posso mudar o curso do destino, prefiro que fiquemos aqui.<br />- Acontecerão coisas que você não poderá controlar. A única chance que você tem de mudar as coisas é agora.<br />- Tem certeza de que é minha única chance?<br />- Não, mas você deve se portar como se fosse. Michiko, as pessoas não são marionetes que você pode controlar como quiser.<br />- Se eu saltei o tempo uma vez, certamente conseguirei de novo. <br />- Mesmo que você mude o curso das coisas, ainda sim existe algo destinado para cada um de nós e não há como escapar disso. A partir do momento que você ultrapassar os portões desse templo, irá saltar novamente para o seu tempo. Não sou capaz de precisar onde você estará, mas nunca se esqueça que será um caminho sem volta. <br /><br />Convicta da decisão, Michiko caminha lentamente em direção ao portão. Seu coração estava embriagado pela saudade da família e lembranças confusas. Ao olhar para fora, começou a notar que a paisagem ia mudando aos poucos e teve um leve receio de continuar a caminhada. Quando ameaçou diminuir a velocidade dos passos foi sugada para fora do templo com tal força que desmaiou. <br /><br />Ao acordar notou que estava rodeada de lindas mulheres, todas maquiadas e com cabelos arrumados. Levantou apressadamente, correu até um espelho e percebeu que o rosto estava pintado como o de uma gueixa. Lembrou que, ainda pequena, fora vendida pelos pais em troca de uma bolsa cheia de ouro.<br /><br />Milena Silva (proposta de criação de conto fantástico)Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-66440511410229549092009-05-24T05:09:00.000-07:002009-05-24T13:21:08.585-07:00DEPOIS DAS 1001 NOITES, MAIS UMAMogiana, dada por esposa ao sobrinho de Ali Babá, tornou-se infeliz e desperdiça seu tempo com quimeras. O filho que teve é a sua única alegria, Seu marido , o jovem Assan Babá, é taciturno e também infeliz. Passa seu tempo enfiado nas suas lojas cuidando das riquezas da família, não tem tempo para agradar Morgiana e nem acarinhar o pequeno Hakin. <br /><br />Ali Babá, sempre esteve a par das tristezas da bela Morgiana, e sabe bem porque ela é triste, Assan tem o amor da bela Mogiana, amor de mãe para filho, pois foi ela quem o amamentou, por isso jamais poderiam viver uma paixão ou mesmo um amor conjugal que os realizasse. Ali Babá, certo dia encontrando a ex escrava e executora dos quarenta ladrões, a passear com Hakin , no jardim de tâmaras, encheu-se de compaixão pela falta de brilho no olhar de Mogiana e perguntou a ela:<br /><br />- Mogiana , bela mulher e insubstituível amiga e protetora , que posso fazer para que o antigo brilho dos seus olhos reapareça vivas como outrora? Ao que ela respondeu:<br /><br />- Ali meu antigo amo! Só a liberdade me será favorável pois o amor que dedico a Assan é de mãe. Como pode me desejar! Só Alá pode me livrar desse infortúnio. Ali Babá procura descobrir alguma maneira de alegrar a amiga pois jamais esqueceu as ações da escrava nos acontecimentos da tentativa de assassinato pelo chefe dos ladrões. Um dia acordou cedo e procurou Assan e pediu a ele permição para levar Mogiana e Hakim para um passeio que duraria o dia todo. Assan consentiu. Mogiana fica muito feliz com a idéia e deixa tudo preparado para o dia seguinte. O pequeno Hakin, reclamou de sair para passear sem a presença do pai. Dirigiram-se para o antigo esconderijo dos ladrões. Mogiana, já conhecia as palavras mágicas, pois Ali Babá já a havia levado até o tesouro várias vezes. Ali Babá ordena!<br /><br />- ABRE-TE SÉZAMO! <br /><br />E adentram os três. Sempre que estivera no rochedo fora com muita pressa, pois sempre existiu o receio que alguém pudesse estar por perto e descobrir o segredo das palavras mágicas. Mas desta vez Ali babá , que já esta em idade de descansar das preocupações da vida, deixa Mogiana muito admirada e apreensiva com as palavras que lhe dirige quase que em silêncio para não despertar o interesse de Hakin, que apesar de ainda ser pequenino, está estupefacto com as riquezas que tem ante seus olhos.<br /><br />- Mogiana, Doravante serás a depositária de minha confiança, serás a dona das palavras mágicas! Serás só tu quem poderás proferi-las e adentrar ao interior do rochedo. Só tu poderás colocar as mãos e retirar daqui qualquer objeto, ou qualquer valor. Pois melhor que ninguém sabes julgar as situações e os valores das mesmas . Mogiana aceita a responsabilidade, porém, detém seu olhar sobre Hakin e preocupa-se com seu futuro. Dirige-se a Ali Babá e implora:<br /><br />- Pela confiança que tenho em ti Ali Babá, entrego-te o futuro de Hakin, visto que Assan Babá ignora, para seu próprio bem e de Hakin, tanto os tesouros , quanto os perigos que nos cercam. Depois de todas as decisões e considerações tomadas, Mogiana finalmente realiza um antigo desejo: examinar tudo aquilo que se encontra no interior do rochedo. Ali Babá fica embevecido ante a curiosidade de Mogiana. Dentro de um cântaro antigo ela encontra um pergaminho ainda mais antigo, uma flauta e um jarrinho que deveria conter algum liquido que deixou vestígios, pois evaporou. Num pequeno baú, colares de pedras negras e de madeiras, de aparência nada valiosa, porque então ali? Sacos de couro de crocodilos com pérolas perfeitas, garrafas com licores desconhecidos, óleos perfumados, moedas e vinhos de todos os lugares do mundo conhecido , com a permissão de Alá, trajes estranhos, riquíssimas porcelanas decoradas a ouro,belíssimas jóias, adagas , lâmpadas, arcos com flechas envenenadas de todos os tipos e formatos, tecidos , plumas , e uma infinidade de vasos e cântaros fechados de maneira a conservar melhor seus conteúdos ... Mogiana , encantada com tanto conhecimento e poder que terá em suas mãos a partir desse dia , e já cansada , dirige-se a o amigo:<br /><br />- Ali Babá ! Já se faz tarde! Devemos voltar à casa!<br /><br />- Você é quem manda Mogiana! Ela apressa-se em sair do rochedo para examinar as redondezas e certificar-se de que não há viva alma por ali, pois agora a segurança do rochedo esta sob sua responsabilidade. Ali e Hakin , saem e Mogiana ordena:<br /><br />- FECHA-TE SÉZAMO!<br /><br />E tudo volta a ser como era antes das palavras mágicas. Naquela noite Mogiana tem idéias que a deixaram radiante! No dia seguinte começa a pô-las em prática. Vai em visita às lojas de seus amigos, convida as famílias de boa reputação de toda a cidade e das cidades vizinhas para uma grande festa! Quando chega o dia da festa explica para Assam seus planos.<br /><br />- Querido Assan! Tenho para ti grande carinho e afeição, sei que o mesmo tu me dedicas... Mas sei também que nem tu , nem eu somos felizes... Tu és um homem bom, justo e muito rico, mereces ter muitas esposas e uma grande prole Essa festa que organizei para nossos amigos é unicamente para que conheças muitas moças belas e de boa índole. E assim possas encontrar algumas mulheres interessantes que possam te agradar e tomá-las por esposas! Assan, concordou, desde que Mogiana sempre ficasse a seu lado. Ao que ela lhe respondeu:<br /><br />- Já não sou uma mulher tão jovem, sempre trabalhei muito! Tenho-te um grande apresso, pois és um homem justo. Mas quero que compreendas meu desejo de voltar a viver livre! E ainda mais um pedido: Hakin deve ser , enquanto possível, protegido por Ali Babá que é um sábio e tem muitos ensinamentos e também tempo para passá-los ao nosso querido Hakin. Te prometo que muito virei visitá-los e levar Hakin para conhecer meu mundo! Assan concede a liberdade a Mogiana, que o abençoa com desejos de que Assan tenha muitos filhos e lhes ensine a justiça , a honestidade e a prosperidade.<br /><br />Ali Babá vê enfim o olhar da bela e esperta Mogiana brilhar novamente! <br /><br /> II Capítulo<br /><br />Na sua tarefa de conhecer o conteúdo verdadeiro do interior do rochedo Manara , ‘ passa seu tempo a vasculhar cada pote, saco ou baú que se encontra no interior do rochedo. Tenta decifrar os segredos de cada peça ali depositada e agora sob sua guarda. O que a atormenta muito , pois sabe que ali esta o fruto de muitas vidas ceifadas pela cobiça e violência de homens desprovidos de qualquer piedade ou compaixão por seus semelhantes.<br /><br />Ali Babá , respira aliviado e passa a vida mais tranqüilo em sua casa na companhia de suas esposas e de Hakin que é muito curioso. <br /><br />Manara, novo nome de Mogiana,tornou-se ausente e ter noticias dela só através de Ali Babá, anda tão ocupada com tanta novidade, que nada a tira do rochedo; Encontrou cadáveres em grandes potes de cerâmica ossos de vários tamanhos e idades guardados em vasos ocultos sob pilhas de sacos de couro de crocodilo num outro lado encontrou uma arpa enorme um cajado de madeira muito dura e antiga, uma cítara com inscrições que a fizeram suspeitar pertencer ao rei Salomão. Também tesouros e a coroa da rainha de Sabá, vasos egípcios e gregos, pergaminhos com planos de batalhas pertencentes ao grande Alexandre da Pérsia. Tapetes mágicos em todo canto, tecidos de tramas estranhas e estampas maravilhosas, sedas lãns. Baús cheios de espadas e adagas de vários tipos e tamanhos forjadas com metais estranhos e ricamente guarnecidas com ouro ou prata e pedras preciosas. Peles , arreios para camelos e cavalos ... Muito tempo levará Manara para conhecer todos os artigos que estão no interior do rochedo. Mas tem tido bastante atenção para com sacos de pele, que estão empilhados num dos nichos, como que cuidados com especial atenção; são sementes, bem embaladas e colocadas em lugar especifico para que se conservem por muito tempo. Manara chega a uma conclusão: Não é dela a responsabilidade de dar um fim àquele tesouro imenso, apenas de velar para que não seja usurpado por ambição e avareza. Afinal, se estão ali aqueles objetos , de alguma maneira estão protegidos, e se estivessem nas mãos de pessoas, mesmo que seus proprietários legítimos ainda estariam sendo motivo de grande ganância e cobiça, causando mais mortes pelo longo do tempo. Hakin sempre esta presente em seus pensamentos e o temor a assalta quando lembra que ele , mesmo sendo uma criança esteve dentro do rochedo. <br /><br />Em outro canto encontrou artigos femeninos! Véus, tiaras, braceletes, mais jóias , tapetes aparadores com bandejas cheias de passas, tâmaras e figos secos, como que servindo um banquete sensual, sobre um grande e suntuoso tapete um naguilé real preparado para uso com os melhores perfumes . Almofadas, cortinas e muitos véus. Véus normalmente usados pelas odaliscas nas danças do ventre ou dos sete véus, penas, maravilhosas penas douradas, enfiadas nos trajes mais bonitos que ali se achavam espalhados pelo chão. Manara , jamais imaginara que pudesse existir algum pássaro com semelhantes penas e de tão grande porte, como sugeriam as penas. Deu-se ao prazer de ornamentar-se com o mais belo traje ali existente, lentamente foi colocando sobre seu corpo, peça por peça, véu por véu, pulseiras, tornozeleiras , colares, perfumes, anéis... Pés descalços , ensaia alguns passos de dança, senta-se sobre uma enorme almofada e começa a trançar seus longos cabelos. Descobre entre os véus espalhados pelo chão, um pequenino véu de cobrir o rosto. Examina-o com bastante calma, seus olhos brilham ainda mais quando percebe a estampa de um grande e magnífico pássaro, bordada a fios de ouro, com muita delicadeza , perfeição e detalhes dando a idéia de um ser mágico e poderoso! Imediatamente, Manara, associa o pássaro às penas douradas ali espalhadas acreditando que ele também faz parte dos tesouros do rochedo. Coloca o pequeno véu sobre seu rosto. Sente uma leve brisa que vai aumentando e rapidamente torna-se um vento poderoso e tudo começa a soltar a poeira acumulada pelo passar do tempo. Manara, silenciosa e possuída de medo, oculta-se num canto e vê o grande pássaro pousar junto dela com pose de submição. A esperta mulher entende a mensagem do pássaro . Aprocima-se dele com carinho e respeito. Agara-se ao pescoço da ave e monta sobre seu potente dorso, sua longa trança mistura-se às penas da ave. Quando sente-se segura e confortável aperta suas pernas sob as asas da ave que levanta súbito vôo em direção às paredes da rocha.<br /><br />--- ABRE-TE SÉZAMO! Grita Manara assustada. E saem ganhando o céu noturno! Nessa noite os céus do Oriente receberam a figura mais bela e apaixonante que Alá permite aos homens vislunbrarem antes de enlouquecerem de paixão pela mulher que voa pelos céus ! <br /><br />Sherazade nesse instante demonstra grande alegria ! A imagem de Manara voando livre nos céus do Oriente, mais bela do que nunca, parece sair de seu próprio desejo. <br /><br />O Emir emociona-se com tamanha imaginação e declara Sherazade, “Rainha”. Mesmo porque ela já esta na sua segunda gestação. Sendo que na primeira nasceu a linda e graciosa Yasmim! Que cresce cheia de beleza e sabedoria!<br /><br />Stela Siebeneichler (sequência imaginária do conto "Ali Baba e os quarenta ladrões", no estudo do livro "As Mil e Uma Noites")Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-16964245924917633322009-05-24T05:04:00.001-07:002009-05-24T13:20:38.444-07:00SABEDORIASe eu pudesse escrever <br />O perfume das flores, <br />O cheiro da terra fresca <br />Remexida no quintal <br />Terra nova de composteira. <br /> <br />Se eu pudesse escrever <br />A energia vital <br />Da terra molhada de chuva <br />Carregada de histórias <br />De flores, galhos, folhas, frutos. <br />De sangue , carne , ossos... <br />Que cumpriram seus ciclos <br />E dormem no húmus, <br />No cheiro da terra, <br />“Garota tímida”, <br />Que carrega em si a natureza. <br /> <br />Se eu pudesse escrever <br />O verde, o ocre, o olor, o sabor <br />Que essa terra virgem contém, <br />Seria , quem sabe, <br />Um tantinho sábia, para saber que <br /> Vida eterna, é essa, que se encontra <br />Sempre jovem , na terra.<br /><br />Stela SiebeneichlerMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-89826934408827632122009-02-05T07:31:00.000-08:002009-05-24T13:20:14.237-07:00A escolha da Ratinha Linda (versão de O Casamento da Ratinha)No sótão de um velho sobrado, construído num daqueles conjuntos habitacionais populares, vivia uma família de ratinhos: o pai, a mãe e uma filha, ratinha muito linda. Bem jovem, a Ratinha Linda, era esse o seu nome, não tinha preocupações em sua vida. Vivia correndo no telhado do sobrado de um lado para o outro, vendo tudo o que acontecia lá embaixo. A Ratinha Linda , mesmo sendo muito jovem, já estava em idade de se casar. As ratinhas se casam muito cedo mesmo e seus pais já estão ficando preocupados com a solteirice de uma ratinha tão bela como era a Linda. <br />--- Mãe Rata, diz o Pai Ratinho , você não acha que devemos encontrar um noivo muito forte , importante, poderoso e rico para casar com a nossa filha e lhe dar uma vida boa e importante, igual de uma princesa , que ela merece? <br />--- Sim, concorda a Mãe Ratinha, é claro que sim! E saíram a procura do ser poderoso, importante, rico e forte para noivar com a Ratinha Linda. <br />Começaram a procura visitando um castelo, o castelo do Conde Frankstein. Pois lá tem um laboratório e em laboratórios se encontram muitos ratos fortes, bem alimentados, com super poderes. Poderia estar lá esse ser extraordinário merecedor da mão da Ratinha Linda. E de fato lá encontraram o ratinho de laboratório. Contaram a ele o quanto era bela a Ratinha Linda e que estava na idade de se casar. O ratinho de laboratório interessou-se muito em conhecer tão linda ratinha e de pronto aceitou o convite para um jantar no sobrado. Seguiram em frente e numa loja de artigos importados da Índia, encontram dentro de uma gaiola de ouro , um ratinho da índia fazendo seus exercícios costumeiros, o acharam muito forte, e lhe falaram da Ratinha Linda, que está em idade de casar. O ratinho da índia ficou feliz com a oportunidade de conhecê-la e aceitou rapidamente ao convite para jantar no sobrado. Mas os pais da Ratinha Linda, ainda não satisfeitos continuaram a procurar por um rato muito importante, no centro da cidade. Entraram num palacete e encontraram na sala um lindo ratinho branco de estimação que brincava no ombro de um menino , filho do dono do palacete. Ficaram admirados com a importância de um ratinho que tem amizade com humanos e lhe contaram sobre a beleza da Ratinha Linda. Ele achou que ela seria uma bela companheira para as brincadeiras na sala e rapidamente aceitou ao convite para o jantar no sobrado. <br />Encontrar noivos com tantas qualidades não é tarefa fácil e os pais da Ratinha Linda já estavam contentes com os três pretendentes que encontraram, seguiram o caminho de casa e iniciaram os preparativos para o jantar que aconteceria no final da semana, no sobrado . E enquanto a noite do jantar não chegava, passavam o tempo falando à Ratinha Linda, sobre as qualidades dos pretendentes escolhidos . <br />Chegado o dia do tal jantar, a mãe achou que a Ratinha Linda não estava nem um pouco preocupada com a escolha que deveria fazer logo mais à noite. E lhe perguntou: <br />--- Ratinha Linda, você já decidiu qual dos ilustres candidatos vai escolher para ser teu marido? Ao que a Ratinha Linda respondeu: <br />--- Já Mãe, já escolhi sim. O rato mais rico, importante, forte, poderoso, jovem e romântico que vocês poderiam apresentar para mim! A mãe estranhou as qualidades que ela e o pai não haviam procurado nos pretendentes mas que Ratinha Linda havia descrito no escolhido. Quando a noite chegou os pretendentes foram entrando, um a um, e a sala ficou pequena para convidados tão importantes. O rato de laboratório ficou de queixo caído com a beleza da Ratinha Linda. O ratinho da índia, corria pela sala como se estivesse se exercitando em sua gaiola dourada, dizendo : HI HI HI ! . O rato branco de estimação disse que a Ratinha Linda seria a mais bela ratinha do palacete! O pai e a mãe, não cabiam em si de contentes. <br />Chegou a hora da escolha. Todos olhavam para Ratinha Linda, ansiosos esperando sua decisão . Finalmente a Ratinha Linda , realmente muito linda no seu vestidinho de seda rosa, com miosótis azuis entre suas orelhinhas pequeninas, um bonito laço de cetim na cintura e cheirando à flor de laranjeiras , tomou a palavra, dirigindo-se aos seus pais: <br />--- Meu pai, minha mãe. Eu sei que o rato de laboratório é muito poderoso, que o rato da Índia é muito forte e que o ratinho de estimação é bem importante. Mas as qualidades estão separadas em cada um deles. E eu já decidi que vou me casar com o Ratinho Ligeirinho, ele é aquele ratinho esperto, ligeiro, que conhece todas as manhas do gato, que sabe onde tem comida e que gosta de passear comigo todas as noites no telhado. É aquele ratinho que mora debaixo do assoalho da cozinha do sobrado ao lado . É com ele que me caso. Os convidados torceram os narizes com seus bigodinhos e lamentaram a má sorte. Afinal uma ratinha tão linda e tão esperta e sabida ao mesmo tempo, não se encontra fácil procurando marido. <br />--- Elas sempre tem pretendentes a sua escolha, disse o rato de laboratório, enquanto saía cabisbaixo do sótão seguido silenciosamente pelo ratinho da Índia e o ratinho de estimação . <br /> Os pais, apesar de perderem a pose com a escolha da filha, ficaram felizes por saber que a Ratinha Linda, terá sempre, boa vida, segurança , fartura e alegria com o seu jovem , previdente e romântico Ligeirinho. <br /> <br /> Stela L. SiebeneichlerMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-13729958171830190892008-12-15T07:50:00.000-08:002009-05-24T13:19:51.941-07:00JORNAL DAS OFICINAS<div align="justify">Na próxima quinta-feira, dia 18, a partir das 18h30min haverá lançamento do Jornal das Oficinas da Fundação Cultural de Curitiba. A festa será no Palacete Wolff - Praça Garibaldi, 08.</div><div align="justify">O jornal traz os melhores trabalhos selecionados das oficinas de 2007. Stela Siebeneichler, participante da Oficina da Biblioteca da Rua da Cidadania do Pinheirinho, orientada pelo poeta Amarildo Anzolim foi selecionada.<br /></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjv0gxgsqUFfKxX80B7EwKypc1LcpmczA3LS7czF5ypoBPkSfhK7g2ecMHvuszBxFYnIPZ2hR_JGrE0Vh39RTh9OtOih7BvWse5Zw26bK3T1YKeE3tcKfrMM4AIBUbl0HayFLf5x27LE0M/s1600-h/Lan__amento_do_Jornal%5B1%5D.JPG"></a>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-83292516232360064552008-12-04T12:06:00.000-08:002009-05-24T13:19:25.267-07:00TEXTO-FONTE 2 - encontro 11<div align="justify">A FORMIGA E O FLOCO DE NEVE</div><div align="justify">Numa certa manhã de inverno uma formiga saía para o seu trabalho diário. Já ia longe procurar comida quando um floco de neve caiu, prendendo o seu pézinho. Aflita, vendo que ali poderia morrer de fome e frio, a formiga olhou para o Sol e pediu: </div><div align="justify">- Sol, tu que és tão forte, derreta a neve e desprenda o meu pézinho?E o Sol, indiferente, respondeu:</div><div align="justify">- Mais forte que eu é o muro que me tapa. Então a pobre formiguinha disse: </div><div align="justify">- Muro, tu que és tão forte, que tampa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pezinho? E o muro rapidamente respondeu:</div><div align="justify">- Mais forte que eu é o rato, que me rói A formiga, quase sem fôlego, perguntou:</div><div align="justify">- Rato, tu que és tão forte, que rói o muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho? E o rato falou bem rápido: </div><div align="justify">- Mais forte que eu é o gato que me come. A formiga então perguntou ao gato: </div><div align="justify">- Tu que és tão forte, que come o rato, que rói o muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho? O gato responde sem demora: </div><div align="justify">- Mais forte que eu é o cão, que me persegue. A formiguinha estava cansada e, mesmo assim, perguntou ao cão:</div><div align="justify">- Tu que és tão forte, que persegue o gato, que come o rato, que rói o muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprende o meu pézinho?</div><div align="justify">- Mais forte que eu é o homem, que me bate. Pobre formiga! Quase sem força, perguntou ao homem:</div><div align="justify">- Tu que és tão forte, que bate no cão, que persegue o gato, que come o rato, que rói o muro, que tapa o Sol, que derrete a neve, desprenda o meu pézinho? O homem olhou para a formiga e respondeu: - Mais forte do que eu é a Morte que me mata. Trêmula de medo, olhando para a Morte que se aproximava, a pobre formiguinha suplicou:</div><div align="justify">- Ó Morte, tu que és tão forte, que matas o homem, que bate no cão que persegue o gato que come o rato que rói o muro, que tapa o sol que derrete a neve, desprende meu pezinho.E a Morte, impassível, respondeu:</div><div align="justify">- Mais forte do que eu é Deus, que me governa. Quase morrendo, então a formiguinha rezou baixinho:</div><div align="justify">- Meu Deus, tu que és tão forte, que governas a morte, que mata o homem que bate no cão que persegue o gato que come o rato que rói o muro, que tapa o sol que derrete a neve, desprende meu pezinho. E Deus, que ouve todas as preces pediu à primavera que chegasse com seu carro dourado triunfal enchendo de flores os campos e de luz os caminhos, e vendo que a formiga estava quase morrendo, levou-a para um lugar onde não há inverno e nem verão e onde as flores permanecem para sempre.</div>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-50258679565202916812008-12-04T12:05:00.000-08:002009-05-24T13:18:35.809-07:00TEXTO-FONTE 1 - encontro 11O CASAMENTO DA RATINHA<br /><br />Fábula japonesa recontada por Lúcia Pimentel<br /><br />No telhado de uma velha casa morava um casal de ratinhos. Eram pais orgulhosos de uma filha linda. O tempo passava e ela ficava sempre mais bonita até tornar-se a mais formosa e gentil ratinha daquelas redondezas. Seus pais tinham a certeza de não haver nenhuma outra tão linda.<br /><br />Certo dia Papai Rato comentou com Mamãe Rata<br />-Não acha que chegou para nossa filha a idade de casar?<br />- Sim, é verdade, mas com quem ?<br />Papai Rato coçou a cabeça.<br />- Ela é tão bonita que será lamentável escolher um simples rato para seu marido. Penso que devemos procurar alguém que seja o mais PODEROSO DO MUNDO.<br />- Quem será esse ser Poderoso ?<br />Fiicaram os dois pensando.<br /><br />Cansados de tanto pensar sem chegar a nenhuma solução, resolveram pedir um conselho ao Vovô Rato:<br />- Vovô Rato, o senhor é tão sábio! Pode nos ajudar? Então nos diga, quem é o alguém mais Importante e Poderoso deste mundo?<br />Vovô pensou um pouco, tossiu uma vez e disse:<br />- Vocês não sabem ? Ora, ora é o Senhor Sol. Sem ele não se tem luz! Com o mundo mergulhado na escuridão, ninguém faz nada. Portanto, ele é o mais importante.<br /><br />- Viva,! Descobrimos o tão Poderoso! - falou alegremente Papai Rato. – Vamos logo procurá-lo e saber se pode casar com a nossa filhinha.<br />A Mamãe Rata também ficou entusiasmada. E levando a filha, saíram para falar com o SOL.<br /><br />Ele brilhava despreocupado, jogando seus raios para todos os lados.<br />- Senhor SOL, o mais poderoso deste mundo, a nossa filha é a ratinha mais linda que existe. Teríamos muito gosto se o Senhor se casasse com ela.<br />O Sol, sorrindo, respondeu:<br />- Agradeço e fico muito honrado. Porém aviso que não sou o mais Poderoso deste mundo, nem o mais Importante.<br />Os ratinhos ficaram espantadíssimos.<br />- Por que? Será outro o mais Importante?<br />- Claro, ilumino a Terra, mas por mais que eu brilhe com todas as minhas forças, se aparecer o Senhor NUVEM, e me esconder, nada posso fazer. Assim, ele é o mais Poderoso!<br /><br />Eles saíram à procura do Senhor NUVEM. Ele pairava no céu, embalado pela calma de seu sono da tarde.<br /><br />- Boa-tarde, Senhor. Ficamos sabendo que é o mais Poderoso do mundo, portanto ficaríamos muito honrados se casasse com nossa filha. Olha só como é linda!<br />Abrindo lentamente os olhos, com voz sonolenta, ele falou:<br />- Realmente, ela é muito linda. Agradeço, mas não sou o mais Poderoso.<br />- Como ? Não e o mais ? Quem pode ser, então ?<br />- Pois eu me espalho por ai, entretanto se aparecer o Senhor VENTO, me carrega pra bem longe e eu fico sem ação. Por isso ele é o mais Poderoso.<br /><br />Convencidos, os ratinhos sem demora foram em busca do Senhor VENTO. Foi encontrado soprando de leve os galhos das árvores. Estes balançavam, fazendo cair pelo chão uma chuva de folhas secas.<br />- Senhor VENTO! Sabemos ser o Senhor o mais Poderoso do mundo! Poderia casar-se com a nossa filha?<br />O VENTO interrompeu seu sopro leve de fazer chuva de folha seca:<br />- Fico feliz com a proposta, mas há um leve engano. Não sou o mais Poderoso do mundo.<br />- Não ?Então outro é mais Poderoso ainda que o Senhor?<br />- Sim, sim. Trata-se do Senhor MURO-DURO. Pois, por mais que eu sopre, não se mexe um tiquinho.<br /><br />Mais que depressa eles voltaram para casa. Pararam em frente ao MURO-DURO.<br />- Senhor MURO-DURO, o mais Poderoso do mundo! O senhor há muito conhece nossa filha. Sabendo o quanto ela é bela não gostaria de casar com ela?<br />- é uma grande honra. Preciso, porém, dizer que existe alguém mais Poderoso ainda neste mundo, que não eu.<br />- Mais Poderoso ainda? – o casal de ratinhos, olhos arregalados, perguntou:<br />- Por favor, diga logo quem é?<br />- São, meus amigos, são...são os RATINHOS.<br />Eles estavam de rabo caído e boca aberta de espanto.<br />- Claro, por mais que eu fique firme e resista, nada posso fazer para enfrentar os terríveis dentinhos de um rato.Seus dentinhos afiados vencem sempre.<br /><br />Tem toda razão! Como não percebemos isto antes ? Quem diria, nós, os Ratos, somos os mais Poderosos do mundo!<br />O casal, muito feliz, não demorou em conseguir, finalmente, um noivo digno para a filha. Um jovem RATINHO do telhado vizinho.<br /><br />E assim, todos os ratinhos da redondeza foram convidados a comparecerem ao castelo.Eles comeram, beberam e cantaram felizes ate tarde da noite para comemorarem o casamento da mais linda ratinha.<br />Festa nunca esquecida, sempre comentada e recordada.<br /><br />O jovem casal, acreditando ser o mais PODEROSO e o mais IMPORTANTE do MUNDO, viveu feliz, teve muitas ninhadas, por muito, muito tempo...Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-73682651381607835162008-11-09T03:03:00.000-08:002009-05-24T13:17:38.620-07:00CRIAÇÃO COLETIVA - Fábula OS MACACOS E A SINETA<em>Não se deve temer um simples ruído, quando a causa dele é desconhecida.</em><br /><em>Um dia, um ladrão, fugindo de uma casa onde roubara uma sineta, foi morto e comido por um tigre que vivia no alto da montanha. Tombando-lhe da mão, sua sineta foi agarrada por alguns macacos, que de vez em quando faziam-na soar.</em><br /><em>O povo da cidade, tendo descoberto que um homem foi morto, e ouvindo constantemente o repique da sineta, dizia que o demônio cruel, em sua cólera, o havia devorado. E fugiram todos os habitantes da cidade. (início de fábula retirada do Panchatantra*). </em><br /><em></em><br />Os macacos se fartaram de tudo que havia nas casas.<br />Os habitantes se encheram de vergonha por temerem o som de uma simples sineta. Prepararam as armas e foram juntos e determinados em desvendar o mistério.<br />Cercaram a floresta de todos os lados. Mas encontraram lá no alto do morro a sineta dependurada no pescoço do macaco que estava dentro da boca do tigre. Mataram o tigre e o empalharam. Refletiram sobre tudo e invadiram outras cidades, usando a mesma fábula da sineta misteriosa: medo do desconhecido.<br /><br />(Escrito a seis mãos : Onélia, Stella e Eduardo).<br /><em></em>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-58390913682832483892008-09-30T12:05:00.000-07:002009-05-24T13:16:17.612-07:00RODA DE LEITURA : MIMI NASHI OICHI<div align="justify">Na próxima quinta-feira (09), ás 15 horas, a escritora, poeta e jornalista Marilia Kubota fará uma leitura do conto Mimi Nashi Oichi, refabulado pelo escritor Valêncio Xavier. A escritora é a convidada da semana do Ciclo Diversidades, da Roda de Leitura, uma das atividades da Casa da Leitura (Parque Barigui).<br />Mimi Nashi Oichi faz parte das histórias da tradição oral japonesa. A lenda integra a coletânea de horror japonesa Kwaidan, traduzida para o inglês pelo nipólogo Lafcádio Hearn, em 1905. O escritor Valêncio Xavier tomou conhecimento da estória de Mimi-Nashi-Oishi através da versão em espanhol, conforme nota na publicação original, de 1986.<br />Mimi Nashi faz parte do ciclo de narrativas chamado “saga do clã Taira (ou Heike)”. No século 12, duas famílias, os Taira e Minamoto (ou Geishe), lutavam pela posse do trono no Japão. Os Minamoto venceram e instituíram o shogunato –uma forma de administração similar ao feudalismo europeu. O shogunato durou de 1192 a 1868, com ressonâncias até o final da Segunda Guerra Mundial.<br />O extermínio dos Taira gerou muitas lendas na região em que seu as batalhas finais. Uma delas, a do monge Oichi, um jovem cego que se refugia num templo. Uma noite ele é chamado por um samurai para cantar a saga dos Taira para uma “platéia muito distinta”. Os monges descobrem que se tratam de fantasmas dos Taira e para protegê-lo, cobrem seu corpo com sutras (ensinamentos budistas). Quando o samurai volta para buscá-lo, leva apenas suas orelhas, que não haviam sido cobertas pelos escritos.<br /> <br />Valêncio Xavier, nascido em São Paulo (1933) desde os anos 60 morador de Curitiba era aficcionado pela cultura japonesa. Mimi Nashi Oichi foi publicado pela primeira vez junto com outra novela, O Mistério da Prostituta Japonesa, em edição do autor. A segunda edição está no livro O Mez da Grippe, da Companhia das Letras, de 1998.<br /><br />Valêncio também publicou Maciste no Inferno, em 1983, O Minotauro, em 1985, 13 Mistérios + O Mistério da Porta Aberta Revista Quem, 1983 a 1990, todos republicados em O Mez da Grippe. Em 2001 a Companhia das Letras lançou Minha Mãe Morrendo e Menino Mentido e a Publifolha, Crimes à Moda Antiga, em 2004.<br />Marília Kubota integrou as antologias Crônicas Paranaenses (1999, crônica), Pindorama (2000, poesia), Passagens (2002,poesia), 8 Femmes (2007, poesia) e Antologia Brasileira do Início do Terceiro Milênio (2008, poesia), lançada em Portugal. Seu último livro é Selva de Sentidos (2008, poesia).<br />Desde 2005 orienta oficinas de criação literária. Em 2008 organizou o Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato. Mantém o blog Micropolis e trabalha com projetos de comunicação para a comunidade nipo-brasileira de Curitiba.</div>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-43323759922080582332008-09-23T05:23:00.000-07:002009-05-24T13:15:07.861-07:00Texto-fonte - encontro 5<div align="right"><em>A literatura alimenta a alma. É um modo de conhecer outras realidades e culturas, um mundo inventado pela ficção. Ela nos conduz ao conhecimento de nós mesmos e dos outros. Um escritor inventa uma biografia emocional com um recorte histórico</em>.<br />Miton Hatoum<br /></div><div align="center"><strong>RELATO DE UM CERTO ORIENTE<br /></strong></div><p align="justify">Romance escrito pelo amazonense descendente de árabes, Milton Hatoum Lançado em 1989 pela Companhia das Letras. Conta a história de uma família árabe que vivia em Manaus, abrangendo um período de 20 anos (1954 a 1974). O relato é feito por cinco narradores em forma de cartas, lembranças de depoimentos dados aos narradores e outros recursos. Todos tentam reconstituir a história da família comandada por Emilie, uma libanesa de formação católica e francesa.<br />Os relatos de uma filha adotada (sem nome), do filho mais velho de Emilie, Hakim, do amigo fotógrafo alemão Gustave Donner, do marido de Emilie (sem nome) e da amiga Hindie Conceição recompõem a trágica historia de Emilie.<br />A protagonista veio para Manaus com família (pais e irmãos) e casou-se com um libanês muçulmano. O casal conviveu sem conflitos religiosos e sobreviveu do comércio de tecidos e objetos decorativos (a loja Parisiense). O negócio prosperou e a família, que inicialmente habitava na loja mudou para um sobrado.<br />Era Emilie quem detinha o poder na família. Teve quatro filhos , três homens e uma mulher. Em sua casa, além dos quatro filhos, habitavam os agregados – empregadas e filhos adotivos (provavelmente filhos extraconjugais do marido ).<br />Uma das primeiras tragédias da vida de Emilie foi a gravidez da filha, Samara Délia, na adolescência. Samara é condenada pelos preceitos religiosos do pai. A mãe a protege, impondo-lhe a clausura e castidade para o resto da vida.. Embora tenha sido perdoada pelo pai, após o nascimento da neta, Samara não é perdoada pelos irmãos caçulas. A filha, Soraya Ângela nasce surdo-muda e é atropelada aos seis anos. A partir deste episódio, começam as brigas e o inicio da decadência da vida do clã, com a morte do patriarca e dispersão dos irmãos.<br />O tempo do romance não é cronológico. A ação se desencadeia a partir da volta da filha adotada à casa da infância. Ela tenta reconstituir as memórias de 20 anos de afastamento. A narradora não conhece toda a história, por isto lança mão dos relatos de parentes e amigos. A história toda só é conhecida lendo os relatos atentamente.<br />No trecho que vamos ler, o relato é uma lembrança de Hakim. Apresenta a relação da família com as agregadas. Observe como o filho vai recompondo a personalidade da mãe. Observe a atitude de Hakim no relato.<br /><br /><em>...devo dizer que as lavadeiras e empregadas da casa não recebiam um tostão para trabalhar, procedimento corriqueiro aqui no norte. Mas a generosidade revela-se ou esconde-se no trato com o Outro, na aceitação ou recusa do Outro. Emilie sempre resmungava porque Anastácia comia “como uma anta” e abusava da paciência dela nos fins de semana em que a lavadeira chegava acompanhada por um séqüito de afilhados e sobrinhos. Aos mais encorpados, com mais de seis anos, Emilie arranjava uma ocupação qualquer: limpar as janelas, os lustres e espelhos venezianos, dar de comer aos animais, tosquear e escovar os pelos dos carneiros e catar as folhas que cobriam o quintal. Eu presenciava tudo calado, moído de dor na consciência, ao perceber que os fâmulos não comiam a mesma comida da família, e escondiam-se nas edículas ao lado dos galinheiros, nas horas da refeição. A humilhação os transtornava até quando levavam a colher de latão á boca. Além disso, meus irmãos abusavam como podiam das empregadas, que às vezes entravam num dia e saiam no outro, marcadas pela violência física e moral. A única que durou foi Anastácia Socorro, porque suportava tudo e fisicamente era pouco atraente. Quantas vezes ela ouvia, resignada, as agressões de uns e de outros, só pelo fato de reclamar, entre murmúrios, que não tinha paciência para preparar o café da manhã cada vez que alguém acordava, já no meio do dia. Vozes ríspidas, injurias e bofetadas também participavam deste teatro cruel no interior do sobrado. Lembro de uma cena que me deixou constrangido e apressou a minha decisão de partir, e assim venerar Emilie de longe.<br />Estava lendo no quarto quando escutei um alvoroço na escada: gritos, choro, convulsões. Corri para ver o que acontecia, e vi um dos meus irmãos arrastando uma das nossas ex-empregadas com um bebê entre os braços. Emilie surgiu de não sei onde, apartando um do outro, e tentando acalmá-los. Ela acompanhou a mulher até o portão e, ao despedir-se dela, cochichou algo a seu ouvido. A mulher levou a criança à Parisiense e contou coisas a meu pai. Foi uma das poucas vezes que o vi cego de ódio, os olhos incendiados de fúria. Eu estava de pé, ao lado da janela da copa, olhando ora para a gravura de um livro de viagens, ora para uma abóbada de folhas cinzentas movimentando-se no quintal, quando o pai irrompeu na casa; fiquei estatelado ao divisar seu corpo alto e um pouco curvado surgir no vão da porta; levava enroscado no punho o cinturão, tal uma serpente negra e delgada; a sua maneira de subir a escada era inconfundível: dava passadas espaçosas, calcando o pé no degrau, e a mão esquerda roçava o corrimão: o atrito da pele com a madeira emitia, em breves intervalos, ruídos agudos, uma espécie de silvado: escutei com temor o corre-corre, o salve-se-quem-puder; e escutei também, pela primeira vez nos seus acessos de fúria, uma frase em português: gritou, entre pontapés e murros na porta, que um filho seu não pode escarrar como um animal dentro do corpo de uma mulher. Depois ele desceu e entrou na cozinha à procura de Emilie; o livro tremia em minhas mãos, e a gravura a bico de pena não era mais que uma teia informe de finos rabiscos; procurei Sálua no quintal, mas não a vi. Também não tive ímpeto de me afastar dali: o medo deixara-me sem ação e sozinho diante de um pai encolerizado. O bate-boca com Emilie foi tempestuoso e breve; que não era a primeira mulher que aparecia na Parisiense com o filho no colo, dizendo-lhe “esta criança é seu neto, filho do seu filho”; que não atravessara oceanos para nutrir os frutos de prazeres fortuitos de seres parasitas; que naquela casa os homens confundiam sexo com instinto e, o que era gravíssimo, haviam esquecido o nome de Deus.<br />- Deus, contra-atacou Emilie – Tu achas que as caboclas olham para o céu e pensam em Deus ? São umas sirigaitas, umas espevitadas que se esfregam no mato com qualquer um e correm aqui para mendigar leite e uns trocados.<br /><br />O velho interrompeu subitamente a discussão e saiu sisudo, decepcionado antes com Emilie que com meus irmãos. Era inútil censurá-los ou repreendê-los Emilie colocava-se sempre ao lado deles: eram pérolas que flutuavam entre o céu e a terra, sempre visíveis e reluzentes aos seus olhos, e ao alcance de suas mãos.<br />Essa convivência de Emilie com os filhos me revoltava, e fazia com que às vezes me distanciasse dela, mesmo sabendo que eu também era idolatrado. Tornava-me um filho arredio, por não ser um estraga-albarda, por não ser vitima ou agressor, por rechaçar a estupidez, a brutalidade no trato com os outros. No meu intimo, creio que deixei a família e a cidade também por não suportar a convivência estúpida com os serviçais. Lembro Dorner dizer que o privilégio aqui no norte não decorre apenas da posse de riquezas.<br />- Aqui reina uma forma estranha de escravidão – opinava Dorner. – A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas.<br />Havia alguma verdade nesta sentença. Eu notava um esforço da parte de Emilie para manter acesa a chama de uma relação cordial com Anastácia Socorro. As vezes bordavam e costuravam juntas, na sala; e ambas conversavam sobre um passado e lugar distantes, e essas conversas atraiam minha atenção. Permanecia horas ao lado das duas mulheres, magnetizado pelo desenho dourado gravado no corpo vítreo do narguilé, nas contas de cor carmesim que formavam volutas ou caracóis semi-imersos no liquido nacarado, e no bico de madeira que terminava num orifício delicado, como se fossem lábios preparados para um beijo. Mirando e admirando aquele objeto adormecido durante o dia, escutava as vozes, de variada entonação, a evocar temas tão distintos que as aproximavam. Anastacia impressionava-se com a parreira sobre o pátio pequeno, o telhado de folhas, suspenso, de onde brotavam cachos de uvas minúsculas, quase brancas e transparentes, e que nunca cresciam; ela fazia careta quando degustava as frutinhas azedas, sem entender a origem dos cachos enormes de graúdas moscatéis que entupiam a geladeira, o pomar das delicias, junto com as maçãs, peras e figos que meu pai trazia do sul, bem como as caixas de raha com amêndoas, os saquinhos de miski, as latas de tâmaras e de “tambac”, o tabaco persa para o narguilé. As frutas e guloseimas eram proibidas às empregadas, e , cada vez que na minha presença Emilie flagrava Anastácia engolindo às pressas uma tâmara com caroço, ou mastigando um bombom de goma, eu me interpunha entre ambas e mentia à minha mãe, dizendo-lhe: fui eu que lhe ofereci o que sobrou da caixa de tâmaras que comi; assim, evitava um escândalo, uma punição ou uma advertência, alem de deixar Emilie reconfortada, radiante de alegria pois para fazê-la feliz bastava que um filho devorasse quantidades imensas de alimentos, como se o conceito de felicidade estivesse muito próximo ao ato de mastigar e ingerir sem fim.<br />A lavadeira me agradecia perfumando minhas roupas; depois de esfregá-las e enxaguá-las, ela salpicava seiva de alfazema nas camisas, lenços e meias, e, quando eu punha as mãos nos bolsos das calças, encontrava as ervas de cheiro: o benjoim e a canela. Um odor de mistura de essências me acompanhava nos passeios pela cidade e desprendia-se do guarda-roupa aberto durante a noite, como se ali, fumegando em algum canto escuro, existisse um incenso invisível.<br />O odor não estava ausente da conversa entre as duas mulheres. O aroma das frutas do “sul” vaporava, se colocadas ao lado do cupuaçu ou da graviola, frutas que, segundo Emilie, exalavam um odor durante o dia, e um outro, mais intenso, mais doce, durante a noite. “São frutas para saciar o olfato, não a fome”, proferia Emilie. “Só os figos da minha infância me deixavam estonteada desse jeito.” O aroma dos figos era a ponta de um novelo de historias narradas por minha mãe. Ela falava das proezas dos homens das aldeias, que no crepúsculo do outono remexiam com as mãos as folhas amontoadas nos caminhos que seriam cobertos pela neve, e com o indicador hirsuto da mãos direita procuravam os escorpiões para instiga-los, sem temer o aguilhão da cauda que penetrava no figo ofertado pela outra mão. Ela evocava também os passeios entre as ruínas romanas, os templos religiosos erigidos em séculos distintos, as brincadeiras no lombo dos animais e as caminhadas através de extensas cavernas que rasgavam as montanhas de neve, ate alcançar os conventos debruçados sobre os abismos.”Mas tinha um outro caminho, ao ar livre”, dizia emocionada. Era uma escada construída pela natureza: pedras arredondadas pela neve escalonavam as montanhas e te conduzem quase sempre a um convento ou monastério. Lá do alto, a terra , os rios e o mar azulado desaparecem: a paisagem do mundo se restringe á floresta de cedros negros e ao rio sagrado que nasce ao pé de montanhas. Além dos muros que circundam os edifícios suntuosos e solenes, uma outra paisagem surge como um milagre: córregos ao meio de bosques, videiras, oliveiras e figueiras que se alastram não muito longe do claustro, da igreja e das celas onde os solitários, nutridos pela religião, alçam o vôo rumo ao céu como as asas de uma montanha.<br />Impassível, com o olhar vidrado no rosto de Emilie, Anastacia aproveitava uma pausa da voz da patroa, empinava o corpo e indagava: como é o mar? O que é uma ruína? Onde fica Balbek ? As vezes Emilie franzia a testa e me cutucava, querendo que eu elucidasse certas duvidas. É curioso, pois sem se dar conta, tua avó deixava escapar frases inteiras em árabe, e é provável que nesses momentos ela estivesse muito longe de mim, de Anastácia, do sobrado e de Manaus. Eu deixava de contemplar os arabescos do narguilé para ponderar sobre isso e aquilo, e tentava dar outro rumo ao assunto, uma reviravolta no tempo e no espaço, passar do Mediterâneo ao Amazonas, da neve ao mormaço, da montanha à planície. E, antes que Anastácia começasse a falar, Emilie largava as agulhas e os panos, e ordenava a mulher a preparar um café com borra e servi-lo em xícaras de porcelana chinesa, tão pequenas que o primeiro gole parecia o ultimo. Alguma coisa imprecisa ou misteriosa na fala de Anastácia hipnotizava minha mãe Emilie, ao contrario de meu pai, de Dorner e dos nossos vizinhos, não tinha vivido no interior do Amazonas. Ela, como eu, jamais atravessara o rio. Manaus era o seu mundo visível. O outro, latejava na sua memória. Imantada por uma voz melodiosa, quase encantada,Emilie maravilhava-se com a descrição da trepadeira que espanta a inveja, das folhas malhadas de um tajá que reproduz a fortuna de um homem, das receitas de curandeiros que vêem em certas ervas da floresta o enigma das doenças mais terriveis, com as infusões de coloração sanguinea aconselhadas para aliviar trinta e seis dores do corpo humano. “E existem ervas que não curam nada”, revelava a lavadeira, “mas assanham a mente da gente. Basta tomar um gole de liquido fervendo para que o cristão sonhe uma única noite muitas vidas diferentes.”<br />Esse relato poderia ser de duvidosa veracidade para outras pessoas, não para Emilie. No jardim tu ainda encontras os tajás e as trepadeiras, separadas das plantas ornamentais. Emilie plantou as mudas naquele tempo e, aconselhada por Anastácia, preparou um adubo com esterco de galinha e carvão em pó para ser misturado à terra, de sete em sete dias durante sete meses. O resultado é a espessa muralha verde musgo que cerca a fonte, e o matagal de tajás vizinho ao galinheiro. Lembro que ali existiam ninhos de cobra, e muitos galináceos pereceram, vitimas dos ofídios. Emilie deu pouca importância ao fato. “Prefiro conviver com cobras a ter que suportar uma ponta de inveja desse ou daquele”. Costumava dizer.<br />Anastácia falava horas a fio, sempre gesticulando, tentando imitar com os dedos, com as mãos, com o corpo, o movimento de um animal, o bote de um felino, a forma de um peixe no ar á procura de alimentos, o vôo melindroso de uma ave. Hoje, ao pensar naquele turbilhão de palavras que povoavam tardes inteiras, constato que Anastácia, através da voz que evocava vivencia e imaginação, procurava um repouso, uma trégua ao árduo trabalho a que se dedicava. Ao contar historias, sua vida parava para respirar: e aquela voz que trazia para dentro do sobrado, para dentro de mim e de Emilie, visões de um mundo misterioso: não exatamente o da floresta, mas o do imaginário de uma mulher que falava para se poupar, que inventava para tentar escapar ao esforço físico, como se a fala permitisse a suspensão momentânea do martírio. Emilie deixava-a falar, mas por vezes seu rosto interrogava o significado de um termo qualquer de origem indígena, ou de uma expressão não utilizada na cidade, e que pertencia à vida da lavadeira, a um tempo remotíssimo, a um lugar esquecido á margem de um rio, e que desconhecíamos Naqueles momentos de duvida ou incompreensão, de nada adiantava o olhar perplexo de Emilie voltado para mim: permanecíamos, os três, calados, resignados a suportar o peso do silencio, atribuído aos “truques da língua brasileira”, como proferia minha mãe. Aquele silêncio insinuava tanta coisa, e nos incomodava tanto...Como se para revelar algo fosse necessário silenciar. Para Emilie, talvez fosem momentos de impasse, de aguda impaciência diante da permanência da duvida. Mas era Anastácia quem rompia o silencio: o nome de um pássaro, ate então misterioso e invisível, ela passava a descreve-lo em minúcias: as remiges vermelhas, o corpo azulado, quase negro, e o bico entreaberto a emitir um canto que ela imitava como poucos que têm o dom de imitar a melodia da natureza. A descrição surtia o efeito de um dicionário aberto na pagina luminosa, de onde se fisga a palavra-chave; e como sentido a surgir da forma, o pássaro emergia da redoma escura de uma árvore e lentamente delineava-se diante de nossos olhos.<br /></em><br />(Relato de um Certo Oriente, págs. 85-92) </p>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-41741920087476316492008-09-12T16:49:00.000-07:002009-05-24T13:13:59.573-07:00GÊNESIS - criações de alunos<div align="justify">Deus estava entediado com o infinito, com sua monotonia, sempre a mesma ausência de cor, som, movimento, nunca variava. E lá estava Ele, parado no espaço vazio sem fronteiras, sem distrações ao alcance dos Seus olhos, e olha que Sua visão alcançava longe. Estava dentro do nada, que se localizava antes do alfa, portanto muito antes do ômega, e é claro, antes do a do alfa. Como o nada era uma enorme escuridão, não fazia diferença ficar com os olhos abertos ou fechados. Deus mantinha os olhos fechados e ninguém nunca soube exatamente a razão. Alguns politeístas diziam que era porque ele tinha medo de, ao abrir encontrar outros deuses; Zeus brincando com seus relâmpagos; Baco girando sua cueca no ar com uma mão enquanto a outra segurava uma garrafa de vinho. Os ateus afirmavam que era porque ao olhar-Se no espelho, Sua imagem não refletiu como acontece normalmente com todos os seres viventes, mesmo com os inanimados, portanto não existe, no entanto o grande poeta falou a eles: respirem, estufem os pulmões e devolvam ao mundo o ar que nos faz viver e envelhecer, que não reflete, que apesar disso, existe, que não é Deus, este, não reflete e, como o outro, existe. Ficaram sem argumentos, depois de um tempo o poeta sumiu misteriosamente e voltaram a nega-Lo. Os agnósticos deram sua opinião em uma breve nota ríspida – se Ele está ou não com os olhos fechados, o problema é dele, só não venha me encher o saco! As especulações foram inúmeras. Depois todos chegaram ao consenso de que isso era uma coisa estúpida demais para se discutir. E acabou o assunto.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Foi então que Deus levantou-Se, estralou as costas, alongou os braços e com as mãos acima da cabeça como um pianista prestes a atacar o piano, pronunciou Sua vontade, e como chicotes bailando no ar, suas mãos lançaram-se para frente. Alguma coisa aconteceu no principio. Estavam criados, céus e terra. Em seguida veio a grande pergunte na solidão divina: o que fazer com isso agora? </div><div align="justify"> </div><div align="justify">A terra parecia um quadro surrealista, como os de Dali, as coisas estavam sem nexo, havia trevas sobre o abismo pra cá, o Espírito de Deus pairando sobre as águas pra lá. Deus tinha resolver aquela mixórdia. Foi então que, sentado em uma pedra que tinha o formato de uma tartaruga que tinha o casco com formato de uma pedra, que Deus disse: Eureka! E saiu pelado correndo e gritando pelo universo. A essa compreensão súbita do que fazer e como fazer, Ele chamou de luz, e, como não havia ninguém por perto, registrou a luz em Seu nome. Em seguida decidiu que ela era boa. Disse Deus: haja luz! E não é que houve mesmo. Depois chamou a luz, dia, e as trevas, noite. Não conseguiu pensar em nomes melhores, então manteve esses mesmos. Ao ver as águas boiando no ar, e depois de inúmeras vezes a areia entrar nos olhos e ser atropelado por enormes rochas, inclusive as que se pareciam com tartarugas, resolveu que criar a gravidade seria uma boa. E foi bom. Feito isso, delimitou o lugar de todas as coisas, isso é, as águas e a terra. Os céus e terra ficaram mais realistas no segundo dia. </div><div align="justify"> </div><div align="justify">No terceiro dia separou de vês as águas da terra, e fez o que mais gostava, dar nomes. A porção seca chamou de terra, e a outra de mares. A terra produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, e arvores que davam fruto segundo ... enrolou a erva, fumou, e viu que era do bom. Com uma maçã suculenta que acabara de morder e um sorriso bobo no rosto, apreciava o crepúsculo enquanto mastigava com a boca aberta. Houve manhã e tarde no terceiro dia.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Deus percebeu uma tremenda gafe em sua criação, criou o dia e a noite antes do sol e da lua. Dizem que esse é motivo do riso das hienas, mas isso, assim como o tempo, é apenas lenda. Apesar da gafe, o primeiro impulso que O motivou a criar os tais luzeiros era para saber a hora do almoço e do jantar, e assim, melhorar sua alimentação, e ao mesmo tempo separou a luz das trevas. Deu sentido ao dia e a noite e ainda entrou em forma. Isso só poderia ser bom.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">O quinto dia prometia. Nele seriam criadas uma das principais atrações desse circo, que chamamos de mundo. Criou, pois, seres viventes nas águas, que, conseqüentemente se molharam. Criou as aves, e que voem sobre a terra, sob o firmamento dos céus. Apesar das asas, o mundo, como tal, era, e é, uma grande gaiola, e não havia como sair, o fato de chegar a lua, a marte, a put ... a toda parte, apenas ressaltava os limites da prisão e o pesadelo da vida. Ao invés de expandirmos a alma, a retraímos e a atrofiamos em beneficio da competição, do desejo de ser melhor que o outro. Trocamos a beleza da alma pela mesquinharia de um jogo fútil. Mas deixemos essa reflexão de lado, como sempre deixamos. Onde estávamos mesmo ? ah sim, os seres ... bem, os seres vivos estavam na terra, prontos para comer, correr, se reproduzir e serem assados nos churrascos de fim de semana, mas para isso é preciso que o fim de semana exista. Vamos lá Deus! Ele pensou sobre o mundo que criou, a vida que deu aos seres, sobre o fim de semana e viu que tudo era muito bom.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Daí o veio o sexto dia, Ele já estava com dor nas costas, e sua ambição de criar estava sendo consumida pela sua preguiça. Estava cansado. Criar o mundo, as estrelas, o universo e todas as coisas, cansa. E com os olhos quase fechando fez o homem. Este ficou no bolso de Dele para terminar mais tarde, só que, descuidado, deixou cair. Foi parar na terra, fato que alterou seu pensamento. A sensação de superioridade afastou-o do sentido da vida à medida que evoluía. Mais a liberdade dada por Deus, o homem vivia no topo da hierarquia, isso, segundo ele, é claro. O homem é a imagem de Deus, mas para que serve o apêndice e as sobrancelhas em um deus ? ou em um homem ? Depois de acordar da cochilada pós-almoço, Ele foi terminar de fazer o homem, colocou a mão no bolso, ficou surpreso, não estava. Foi achar na terra, feio, arrogante e deformado em prol da queda. Oh céus! Pensou. Desanimado demais para fazer qualquer coisa, sentou, pegou a bacia de pipoca, relaxou, e está até hoje assistindo, vendo aonde esse mundo vai parar. Enquanto espantava uma mosca que rodeava seu ouvido divino, pensou: da próxima vez faço direito, sem acidentes, em cinco dias apenas ! Colocou sal na pipoca, jogou para cima e ela caiu certeira na boca, e viu que agora estava boa. Tudo estava bom. Bem. Quase.</div><br />Eduardo FerreiraMarilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-87090798385256589262008-09-11T10:53:00.001-07:002008-09-11T10:58:34.524-07:00Feira de Livro SESC ParanáDe 30 de setembro à 04 de outubro, no Memorial de Curitiba<br />Mais informações <a style="font-weight: bold;" href="http://feiradelivros.blogspot.com/">http://feiradelivros.blogspot.com</a><br />O texto abaixo foi retirado do blog do evento.<br /><blockquote>As <strong>Feiras de Livro</strong> realizadas pelo SESC constituem-se numa das ações mais tradicionais desenvolvidas pela Entidade. Com a realização, ao longo de duas décadas, milhares de pessoas tiveram a oportunidade de entrar em contato com a literatura, de maneira lúdica e estimulante. Em algumas situações, o evento alcança municípios nos quais é, muitas vezes, o único evento cultural disponível para a população.<br /><br />A edição de 2008, que acontecerá simultaneamente no período de 30 de setembro a 04 de outubro em 22 Unidades do Sesc no Paraná, traz como temática <strong>"Literatura e Tecnologia".</strong> A proposta é falar sobre a confluência entre tecnologia e literatura, abordando temas como as mídias eletrônicas sendo utilizadas como suporte para publicação e apresentação literária.<br /><br />O evento faz ainda homenagem ao escritor <strong>Machado de Assis</strong>, no centenário de sua morte. O autor e sua obra serão lembrados por meio de exposição, palestras e performances literárias.</blockquote>Mylle Silvahttp://www.blogger.com/profile/02241368047909620037noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-82832269835495404702008-09-09T07:42:00.000-07:002008-09-09T07:49:42.721-07:00GÊNESIS - criações de alunos<strong>Criação </strong><br /><br />No princípio<br />Os céus e a terra.<br />E veio a treva e o lodo.<br />Em tudo respirava Seu Espírito.<br />E Ele quis a luz<br />Então, conteve na noite a treva.<br />E a luz, espalhou-a pelo dia<br />Que aconteceu vez primeira.<br /><br />As águas achavam-se<br />Espalhadas pela superfície,<br />E acima dela, desordenadamente.<br />Ele quis que as águas reunissem-se<br />Acima , as de cima, nas nuvens,<br />E abaixo, as da superfície.<br />E veio a noite, e depois, outro dia.<br /><br />Ele desejou ter terra úmida.<br />As águas juntaram-se<br />Nos rios e oceanos. <br />Gostou disso. Mandou que a terra úmida<br />Vestisse-se de relva, ervas ,<br />Árvores frutíferas, cheias<br />De sementes de vida nova.<br />Anoiteceu e amanheceu. <br /><br />A noite era muito escura<br />Ele colocou nos céus estrelas,<br />Planetas e tantos outros.<br />Mas sentiu que não estava bom<br />Criou a lua para acompanhar<br />A noite da terra,<br />E o sol para fazer o dia.<br />E os dois; sol e lua<br />Para ditar as normas do ano.<br />Outra vez veio a noite<br />Seguida de outro dia.<br /><br />Sentiu a fecundidade das águas<br />E povoou-a de peixes, junto com eles<br />Imensa quantidade de animais marinhos.<br />Sobre a terra espalhou as aves<br />De toda a cor, espécie e canto.<br />Os seres rastejantes foram criados<br />Nas águas, depois delas puderam sair.<br />Ele amou-os a todos, pois abençoou-os<br />Com o poder da procriação.<br />E a noite chegou trazida pela lua.<br />O sol a sucedeu trazendo outro dia.<br /><br />Ele viu que tudo era agradável<br />Mas sentiu solidão.<br />Então ambientou<br />Sobre e abaixo da relva, por toda parte, insetos<br />E animais selvagens de toda espécie.<br />E também os mansos e os amigáveis<br />E viu que era bom tudo o que fizera.<br />Pois as aves cantam, as ervas florecem,<br />E as árvores frutíferas enchem as florestas<br />E jardins, com sabores e aromas deliciosos.<br />O sol, a lua, os astros Brilham em seus momentos<br />Fazendo belos os dias e as noites.<br />As águas de cima caem em gotas prodigiosas<br />Umidecendo a relva e visitando as debaixo.<br />Os peixes enchem os rios e mares.<br />Os animais procriam, a terra produz.<br />Mas Ele ainda sentiu-se só!<br />E igual a Sua Própria Imagem<br />Criou o homem, e do homem<br />Criou a mulher.<br />E os amou Os abençoou, lhes deu a terra<br />E tudo que nela criou.<br />E eles a receberam de Seu amor.<br /><br />Assim se sucederam os dias e as noites.<br />Sendo Ele o Senhor e o Tempo.<br /><br /><em>Stela Siebeneichler</em>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-2687300912075662392008-09-09T07:39:00.000-07:002008-09-09T07:42:19.093-07:00GÊNESIS - versões - poesia brasileiraO COMEÇO DO MUNDO<br />Antônio Simplício – Bela Vista<br /><br />Quanu Deus feis u mundu<br />Foi cum grandi nepetenti,<br />Foi formadu in seis dia<br />Mais foi todu deferenti;<br />Feis us matu e feis us campu<br />Prá fiça lindu i diante<br />Feis Adão e feis a Eva<br />Pois nu mundu pra sementi.<br /><br />Feis Adão e feis a Eva<br />Pois nu mundu pra sementi,<br />I formô-si um paraisoI deu êlis di presenti;<br />Não precisa tê orgulhu<br />Qui nóis tudu samu parenti,<br />Nois tudu samu irmão<br />Di Adão samo decendenti.<br /><br />Feis us artu i as baxada,<br />Feis us corgu i as vertenti,<br />Tamém feis a bicharada<br />Ondi tem bichu valenti,<br />I formô-si a riligião<br />Pra vê us quali qui é crenti,<br />Deu toda a livre vontadi<br />Pra vê quem tinha boa menti.<br /><br />Feis a África e feis a Itália,<br />I também feis u Japão,<br />I despois feis a Turquia<br />Ondi tem turquim pagão.<br />I tamem feis a Inglaterra<br />Qui é da mesma nação,<br />Colocô u mar nu meiu<br />Prá fazê separação.<br /><br />Feis as iscritura sagrada<br />I formô-si a riligião,<br />Agora vamu vê<br />U quali é qui é mais cristão,<br />Vamu tudu pelejá<br />Pra ganhá a sarvação.<br />Quis us prazê desse mundu<br />Num passa de ilusão.Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-35196669615219703642008-09-09T07:33:00.000-07:002008-09-09T07:38:40.789-07:00GÊNESIS - versões - poesia brasileiraPrimeiro não havia nada<br />Nem gente, nem parafuso<br />O céu era então confuso<br />E não havia nada<br />Mas o espírito de tudo<br />Quando ainda não havia<br />Tomou forma de uma jia<br />Espírito de tudo<br /><br />E dando o primeiro pulo<br />Tornou-se o verso e reverso<br />De tudo que é universo<br />Dando o primeiro pulo<br />Assim que passou a haver<br />Tudo quanto não havia<br />Tempo pedra peixe dia<br />Assim passou a haver<br /><br />Dizem que existe uma tribo<br />De gente que sabe o modo<br />De ver esse fato todo<br />Diz que existe essa tribo<br />De gente que toma um vinho<br />Num determinado dia<br />E vê a cara da jia<br />Gente que toma um vinho<br /><br />Dizem que existe essa gente<br />Dispersa entre os automóveis<br />Que torna os tempos imóveis<br />Diz que existe essa gente<br />Dizem que tudo é sagrado<br />Devem se adorar as jias<br />E as coisas que não são jias<br />Diz que tudo é sagrado<br /><br />E não havia nada<br />Espírito de tudo<br />Dando o primeiro pulo<br />Assim passou a haver<br />Diz que existe essa tribo<br />Gente que toma um vinho<br /><br />Diz que existe essa gente<br />Diz que tudo é sagrado<br /><br />(Caetano Veloso)Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-56379824212626758002008-09-09T07:31:00.000-07:002008-09-09T07:33:23.600-07:00GÊNESIS I - traduçãoNo começar Deus criando<br />O fogoágua e a terra<br /><br />E a terra era lodo torvo<br />E a treva sobre o rosto do abismo<br />E o sopro-Deus<br />Revoa sobre o rosto da água<br /><br />E Deus disse seja luz<br />E foi luz<br /><br />E Deus viu que a luz era boa<br />E Deus dividiu<br />Entre a luz e a treva<br /><br />E Deus chamou à luz dia<br />e à treva chamou noite<br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia um<br /><br />E Deus disse<br />Seja uma arcada no seio das águas<br />E que divida<br />Entre água e água<br /><br />E Deus fez a arcada<br />E dividiu entre água sob-a-arcada<br />E água sobre-a-arcada <br />E foi assim<br /><br />E Deus chamou a arcada céufogoágua<br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia segundo<br /><br />E Deus disse que se reúnam as águas<br />Sob céufogoágua num sítio uno<br />E que abiste o seco<br />E foi assim<br /><br />E Deus chamou ao seco terra<br />E às águas reunidas chamou mar-de-águas<br />E Deus viu que era bom<br /><br />E Deus disse que vice a terra de relva<br />De erva que gere semente<br />De árvore-de-fruto que dê fruto de sua espécie<br />Com a semente dentro por sobre a terra<br /><br />E foi assim<br />E a terra vicejou relva<br />Erva que gera semente de sua espécie<br />E a árvore que dá fruto<br />Com a semente dentro por sobre a terra<br />De sua espécie<br />E Deus viu que era bom<br /><br />E a terra vicejou relva<br />Erva que gera semente de sua espécie<br />E árvore que dá fruto com a semente dentro<br />De sua espécie<br />E Deus viu que era bom<br /><br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia terceiro<br /><br />E Deus disse sejam luminárias<br />No arco do céufogoágua<br />Para dividir entre o dia e a noite<br />E para ser quais sinais para as estações<br />E para os dias e os anos<br /><br />E que sejam luminárias no arco do céufogoágua<br />Para iluminar a terra<br />E foi assim<br /><br />E Deus fez os dois luzeiros grandes<br />O luzeiro maior para a regência do dia<br />E o luzeiro menor para a regência da noite<br />E as estrelas<br /><br />E Deus os deus ao arco do céufogoágua<br />Para iluminar a terra<br /><br />E para reinar sobre o dia e sobre a noite<br />E para dividir<br />Entre a luz e a treva<br />E Deus viu que era bom<br /><br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia quarto<br /><br />E Deus disse<br />Que as águas esfervilhem<br />Seres fervilhantes alma-da-vida<br />E aves voem sobre a terra<br />Face à face do céufogoágua<br /><br />E Deus criou<br />Os grandes monstros do mar<br />E todas as almas-de-vida rastejantes<br /><br />Que fervilham nas águas segundo sua espécie<br />E todas as aves de pena segundo sua espécie<br /><br />E Deus os bendisse dizendo<br />Frutificai multiplicai cumulai nas águas<br />Do mar-de-águas<br />E que a ave multiplique na terra<br /><br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia quinto<br /><br />E Deus disse produza a terra almas-de-vida<br />Segundo sua espécie<br />Animais-gado e répteis e animais-feras<br />E foi assim<br /><br />E Deus fez os animais-feras segundo sua espécie<br />E os animais-gado segundo sua espécie<br />E todos os répteis do solo segundo sua espécie<br />E Deus viu que era bom<br /><br />E Deus disse<br />Façamos o homem à nossa imagem<br />Conforme-a-nós-em-semelhança<br />E que eles dominem sobre os peixes do mar<br />E sobre as aves do céu<br />E sobre os animais-gado e sobre a terra<br />e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra<br /><br />E Deus criou o homem à sua imagem<br />À imagem de Deus ele o criou<br />Macho e fêmea ele os criou<br /><br />E Deus os bendisse<br />E Deus lhes disse<br />Frutificai multiplicai cumulai na terra<br />E subjugai-a<br />E dominai sobre os peixes do mar<br />E sobre as aves do céu<br />E sobre todo animal que rasteje sobre a terra<br /><br />E Deus disse<br />Eis que vos dei<br />Toda a erva que gera semente<br />Sobre a face de toda terra<br />E toda a árvore onde o fruto-das-árvores<br />Gera semente<br />Isto vos caberá por alimento<br /><br />E para todo animal da terra<br />E para toda ave do céu<br />E para tudo o que rasteja sobre a terra<br />Com alma-de-vida dentro<br />A erva o verde-todo-verdura<br />E foi assim<br /><br />E Deus viu o seu feito no todo<br />E eis que era muito bom<br />E foi tarde e foi manhã<br />Dia sexto<br /><br />(Tradução Haroldo de Campos)Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-35299934303735645472008-09-06T04:02:00.000-07:002008-09-09T07:31:47.326-07:00Textos-fonte - encontros 1, 2 e 3<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKg_7g4VM_EMEpt139eL8wA8XdO9S3walE4obvJS0Jz4ordO1Wzuf_IrbGVZ4p1HRmQOXiq8thqIF6f20mU04OkFj2dxUF5qXCB_3BjkAjhO4VXDCKfS5kKYbKlOLSaO9miTDDzWc_yLE/s1600-h/caricaturasoficinavisoes.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5244018634016590130" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKg_7g4VM_EMEpt139eL8wA8XdO9S3walE4obvJS0Jz4ordO1Wzuf_IrbGVZ4p1HRmQOXiq8thqIF6f20mU04OkFj2dxUF5qXCB_3BjkAjhO4VXDCKfS5kKYbKlOLSaO9miTDDzWc_yLE/s200/caricaturasoficinavisoes.jpg" border="0" /></a><br /><div>Caricaturas feitas por Filipe Fleixeira. </div><div></div><div> </div><div>GÊNESIS I </div><div></div><div>No princípio, criou Deus os céus e a terra.<br />A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.<br />Disse Deus: Haja luz; e houve luz.<br />E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.<br />Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.<br />E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas e separação entre águas e águas.<br />Fez, pois, Deus o firmamento e separação entre as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento. E assim se fez.<br />E chamou Deus ao firmamento Céus. Houve tarde e manhã, o segundo dia.<br />Disse também Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num só lugar, e apareça a porção seca. E assim se fez.<br />À porção seca chamou Deus Terra e ao ajuntamento das águas, Mares. E viu Deus que isso era bom.<br />E disse: Produza a terra relva, ervas que dêem semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a terra. E assim se fez.<br />A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie e árvores que davam fruto, cuja semente estava nele, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.<br />Houve tarde e manhã, o terceiro dia.<br />Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos.<br />E sejam para luzeiros no firmamento dos céus, para alumiar a terra. E assim se fez.<br />Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; e fez também as estrelas.<br />E os colocou no firmamento dos céus para alumiarem a terra, para governarem o dia e a noite e fazerem separação entre a luz e as trevas. E viu Deus que isso era bom.<br />Houve tarde e manhã, o quarto dia.<br />Disse também Deus: Povoem-se as águas de enxames de seres viventes; e voem as aves sobre a terra, sob o firmamento dos céus.<br />Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.<br />E Deus os abençoou, dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei as águas dos mares; e, na terra, se multipliquem as aves.<br />Houve tarde e manhã, o quinto dia.<br />Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua espécie. E assim se fez.<br />E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie. E viu Deus que isso era bom.<br />Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.<br />Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.<br />E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.<br />E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.<br />E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.<br />Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia .</div><div> </div><div>(Biblia, versão Almeida. Tradução João Ferreira de Almeida, 1648). </div><div></div>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8602194130478265898.post-32558710612817293972008-09-06T03:58:00.000-07:002008-09-09T06:58:16.749-07:00V i s õ e s d o O r i e n t e<div align="justify">Visões do Oriente é um projeto aprovado pelo Programa de Incentivo à Ação Cultural do Fundo Municipal de Cultura e supervisionado pela Coordenação de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba. A oficina trará textos cuja fonte original é o Oriente, Palestina, Índia, China, Japão. Textos da Bíblia, fábulas, lendas, contos populares e textos recriados a partir destes textos. Na segunda fase, leituras especificas sobre a cultura e poesia japonesa e sua influência no Ocidente. Leituras e discussões em grupo, a partir de textos de orientação. A principal ferramenta da oficina é o diálogo. Não é curso de literatura nem as discussões são definitivas. HorárioEncontros: Sábados, 14 às 18 horasIntervalo 16h 15 min Agenda20 encontros – 16 de agosto de 2008 a 09 de maio de 2009<br /><br /><br />Ministrante: Marilia Kubota<br />Biblioteca Rua da Cidadania Pinheirinho<br />FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA<br /><br />Inscrições até 31 de julho – Terminal do PinheirinhoTelefone e informações : Biblioteca Pinheirinho : 3212-1514 (Paulo)Feira do Poeta: 3321-3317 (Jussara)Requisitos: Mais de 18 anos, 2º. Grau completo, justificativa para participar e 3 textos de ficção (poesia ou prosa) de sua autoria. Doação de um livro de ficção novo na inscrição.INICIO 16 DE AGOSTO - Encontros quinzenais aos sábados<br /><br />Textos bíblicos são literatura ? Sim. E contos populares ? Também. Visões do Oriente estudará como chegaram estes textos até nós e suas várias versões rearranjadas na poesia, na música popular, no cinema e em outras artes. E ainda, a visão de orientais na América – árabes, judeus e outras etnias, compondo o coro das vozes da diversidade étnica. A oficina é uma homenagem da escritora, descendente de japoneses, aos 100 anos da Imigração Japonesa ao Brasil, comemorado até 2009.<br /><br />Mais informações – <a href="mailto:marilia.kubota@gmail.com">marilia.kubota@gmail.com</a> , 9128-0814 e com Paulo, na Rua da Cidadania.<br />Marilia Kubota é escritora e jornalista. Escreve e publica ficção há 17 anos. Tem publicadas cinco antologias, no Brasil, Portugal e Argentina e um livro de poesia. Organizou o Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato e a exposição Arte Nikkei. Desde 2005 orienta oficinas de leitura e criação na Fundação Cultural de Curitiba. É editora do site Escritoras Suicidas (www.escritorassuicidas.com.br ), autora do blog Micropolis (<a href="http://www.micropolis.blogspot.com/">http://www.micropolis.blogspot.com/</a>) e trabalha para a comunidade nipo-brasileira de Curitiba.</div>Marilia Kubotahttp://www.blogger.com/profile/15149352002949573952noreply@blogger.com0