domingo, 24 de maio de 2009

A AMIZADE, O CAMINHO, O LEQUE



Sentada na escada da varanda, Yumi aguardava a chegada da mãe que fora para a venda ajudar a seu pai na organização dos mantimentos recém chegados da ultima encomenda. Yumi , tranqüila, pega sua flauta e toca uma música que fazia tempo não executava . De vez em quando parava , ficava em silêncio , tentando ouvir algum ruído diferente que viesse junto ao farfalhar das folhas do bambuzal. Tinha a esperança de que a raposa Lin, viesse para uma visita, pois fazia tempo que o filhote de raposa não aparecia para contar como estava bonito o bambuzinho, que já não era mais um brotinho, mas um jovem e esbelto bambu. Ou para contar como está indo em seu novo estágio de treinamento para as transformações a que todas as raposas devem se submeter até estarem prontas para qualquer transformação necessária em suas vidas mágicas.
Yumi se sentindo forte e corajosa resolveu se aventurar pela estradinha que leva para o lado do bambuzal. Com o vento soprando suavemente, batendo com a força de uma brisa leve com cheiro de flores de pessegueiro e folhas de bambu no rosto da menina, ela avança despreocupada rumo ao bambuzal. A estradinha seguindo seu curso que acompamha a plantação de pêssegos desvia do bambuzal afastando Yumi de casa e também do seu objetivo que é chegar perto do bambuzal. E se tiver sorte, encontrar Lin e conhecer o jovem bambuzinho, outras raposas, ouvir de perto os pássaros cantores , dos quais Lin já falou tanto.
Yumi segue segurando forte em sua mão a flauta, como se ela conhecesse o caminho de tanto transformar em música o sopro da Yumi na direção do bambuzal. De repente o caminho se abre em dois, um seguindo seu curso normal. O outro abrindo conforme a vontade de Yumi e seus passos dirigidos pelo vento e o cheiro de bambu, agora só de bambu pois a plantação de pêssegos já ficou para trás.
O farfalhar das folhas penetra forte nos ouvidos da menina. O bambuzal é maior que a imaginação de Yumi. Quanto mais ela anda mais se embrenha em seu interior. Sentindo insegurança, está aflita. Seus pés pisam a folhagem áspera e cortante, não sentem mais o caminho. Em desequilíbrio cai. Chora . Chama por Lin.
- Lin! Você está aqui? Estou perdida! Tive vontade de conhecer o bambuzal mas perdi a direção e também o caminho. Como voltarei para casa? A raposa Lin atende de pronto ao pedido de ajuda da amiga Yumi.
- Estou aqui pertinho de você. Vem comigo. Vou te mostrar meu amigo bambu!
Lin oferece a mão de menino para a garota e com ela segue pelos carreiros dos animais que moram ou transitam no bambuzal.
- Que foi que aconteceu para você sair assim sozinha de casa?
- Me senti sozinha e sempre tive vontade de saber como é um bambuzal... Você sabe que para mim saber como é alguma coisa , preciso tocar, sentir. E além disso já estou bem crescidinha para fazer alguma coisa que eu queira. Cheguei aqui, mas agora não sei voltar para casa. Isso não preocupou Yumi por muito tempo. Lin prometeu que a ajudaria a voltar para casa. Lin chegou com a menina bem pertinho do amigo bambuzinho.
-Yumi, coloque a mão aqui no toco do bambuzinho, sinta como ele está grande e forte! Ele também está muito alto!
-Amiga, toque uma música na tua flauta - pede o bambuzinho. - Todos aqui ouvem a tua música com muito gosto, até os pássaros param de cantar para te ouvir.
Yumi toca a música que ela mais gosta e logo vão chegando mais raposas para ouvi-la. A raposa mãe de Lin está entre elas. O bambuzal está em festa! A mãe de Lin fica espantada com a perfeita transformação do filhote em menino.
- Lin , você conseguiu! Não tem nenhum sinal de raposa em você! Não ficou aparecendo o rabinho , nem pedacinho de orelha! Essa menina é quem te ajudou a se concentrar para se transformar assim tão perfeitamente. Tenho um presente para ela!
E foi tirando de algum lugar de seu corpo mágico , um bonito leque feito de bambu lascado e seda colorida. Colocou-o nas mãos de Yumi com recomendações de cuidados e prometeu que ela ainda seria uma pessoa muito feliz e a beleza seria constante em sua vida:
- Menina, este leque é mágico! Conforme você for abanando seu rosto com ele irá apagando as sombras que ocultam a luz da tua vida.
Yumi , feliz, agradece e despede de seus novos amigos com mais notas musicais. Depois guarda a flauta no bolso e procura a mão de Lin para que ele lhe mostre o caminho de volta.
- Você não precisa de minha mão, mas de teus pés no caminho. Sinta como você esta andando com segurança! Abane o leque na frente de teus olhos. O leque vai te mostrar a luz e eu estou transformado em caminho para te conduzir até a tua casa , como te trouxe desde a curva dos pessegueiros.
O farfalhar do bambuzal com canto de pássaros virou música de despedida para Yumi que foi caminhando bem devagar até chegar em casa já bem cansada e ficar por mais algum tempo sentada na varanda esperando que sua mãe volte da venda, tocando em sua flauta músicas bem alegres em agradecimento à raposa Lin por tê-la conduzido em sua viagem até o bambuzal e depois se tranformar em caminho novamente até que ela chegasse em casa.
Guarda a flauta num dos bolsos e tira o leque do outro bolso balança-o em frente aos olhos demoradamente O ar refrescante que sai do movimento do leque acaricia seu rosto e penetra em seus olhos.
O sol se põe atrás do bambuzal. Yumi vê na curva dos pessegueiros a mãe chegando.

Stela Siebeneichler (sequência imaginária de "Lin e o outro lado do bambuzal", fábula infanto-juvenil criada por Lúcia Hiratsuka)

Um comentário:

Lúcia Hiratsuka disse...

Stela,

parabéns! Adorei que você tenha escrito esse final. Gostei também do título, acho que o leque completou uma imagem bonita.

um beijo grande

Lúcia Hiratsuka